Faltam exatamente 30 dias para o fim do prazo de filiação partidária para os pré-candidatos das eleições de outubro. É a tão sonhada “janela” que os parlamentares insatisfeitos com suas agremiações aguardam com tanta ansiedade para trocar de legenda sem se serem considerados infiéis pela Justiça Eleitoral. No entanto, para a tristeza deles, essa “janela” não está sendo tão positiva quanto esperavam.
Como a coluna já abordou, por conta do fim das coligações proporcionais, os vereadores estão sendo considerados personae non gratae nos partidos. Uns presidentes negociaram diplomaticamente a saída deles e outros foram secamente convidados a se retirar. Tudo porque as legendas são pressionadas por pré-candidatos sem mandato e com bom potencial de votação. Eles não querem ser usados de escadinha para a reeleição de quem tem mandato, e só aceitam ingressar em siglas com nomes com capacidade equivalente à deles. Logo, vereador, que tem mídia espontânea e até emendas parlamentares para os bairros (como ocorre em Palmas), representam uma concorrência desleal. Assim, os que deixam o seu partido neste momento têm dificuldades de se reacomodar em outro.
[bs-quote quote=”Se de um lado, a falência das ideologias pode ser vista como um momento de relaxamento das tensões políticas, também abre margem para todos de desvirtuamento da vida pública que assistimos nos últimos tempos” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Além desse fato político criado pela nova legislação eleitoral, há outros movimentos que têm chamado a atenção. Nesta semana tivemos o desfecho, tardio, do PSDB do Tocantins. A executiva nacional tucana atrasou em, no mínimo, três ou quatro meses, a estratégia de consolidação do grupo da prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, ao protelar uma decisão que era inevitável. Foi uma piada de mau gosto a reunião anterior da executiva em Brasília que decidiu “delegar todo poder” para o presidente nacional, Bruno Araújo, garantir a candidatura à reeleição de Cinthia. Acabou que Araújo continuou como antes, sem fazer nada, e a própria executiva que havia delegado poderes agiu e resolveu a parada. Executiva nacional não delega poderes para casos desse tipo. Ela simplesmente resolve, como fez, por exemplo, o MDB em 2014 para garantir a candidatura de Marcelo Miranda e Kátia Abreu. Não é à toa que o PSDB perdeu seu protagonismo no País e se tornou o partido insosso que é hoje.
A direção nacional tucana deveria ter tomado essa decisão no segundo semestre do ano passado para que Cinthia tivesse mais tempo para estruturar o partido e acomodar seu grupo. Agora, como ela disse à Coluna do CT, terá que literalmente “se virar nos 30” para dar conta de resolver todas as pendências políticas de pré-campanha até o dia 4 de abril. Pior, sob um clima de insegurança jurídica criado pela própria executiva nacional, ao demorar se decidir, e que levará à judicialização da situação do Tocantins, como já adiantou o ex-presidente regional Ataídes Oliveira. Um pré-candidato a vereador ou a prefeito do Estado deve estar pensando se agora compensa ficar ou ingressar num partido nessas condições, ou se seria melhor procurar outro rumo.
Também chamou a atenção neste início de março, que os políticos em Brasília estão chamando de mês de cachorro louco, por essas mexidas inesperadas, foi a desfiliação do ex-presidente regional do PT Júlio César Brasil para ir para o outro extremo, o Democratas. Essa cambalhota da esquerda para a direita é totalmente anormal e mostra que o pragmatismo venceu a ideologia. Alguém que militou à esquerda por 25 anos, de repente, joga de lado todas as doutrinas que pregava e muda para o outro extremo do campo, que prega totalmente o inverso do que se acreditava antes, é algo realmente fora do comum.
A explicação do também ex-prefeito de Couto Magalhães de que a nova conjuntura do País torna mais fácil conseguir recursos para o município junto de outras forças políticas é compreensível diante da situação de penúria das prefeituras, mas, ao mesmo tempo, só confirma a vitória do pragmatismo sobre a ideologia.
Se de um lado, a falência das ideologias pode ser vista como um momento de relaxamento das tensões políticas, também abre margem para os desvirtuamentos da vida pública que assistimos nos últimos tempos. Deixar a ideologia de lado, também pode significar abandonar valores que norteiam os rumos do homem. Sem princípios claros, tudo é válido, mudar de campo de atuação para obter recursos para obras públicas e também agir em interesse próprio e não do coletivo.
Claro que não se está dizendo aqui que essa última e condenável prática se aplica a Júlio César, que tem uma história de vida pública que precisa ser respeitada, mas é inegável que a metástase das práticas não republicanas resulta de agentes que não fazem política por ideologia, ou seja, por valores sólidos, mas por interesses meramente egoísticos.
Sou um liberal de centro-direita, não tenho qualquer simpatia pelo PT, mas respeito diversos de seus quadros, do Tocantins e de fora dele. Mais que isso, sou apaixonado pela boa política. Por isso, também fiquei triste com esse episódio em que o pragmatismo venceu, porque cada dia mais ele nivela a política por baixo.
Não é por outro motivo que nunca estivemos tão carentes de bons líderes. Essa é a maior crise que o Brasil enfrenta neste momento, a crise de liderança.
CT, Palmas, 6 de março de 2020.