Os médicos infectologistas Flávio Milagres, de Palmas, e Carina Amaral Feriani, de Araguaína, se posicionaram em entrevista à Coluna do CT contrários à decisão do governo de flexibilizar a quarentena e liberar as atividades de leilões de bovinos com restrições de participantes em todo o Tocantins, apesar da pandemia de Covid-19. Os dois especialistas afirmam que o número de casos no Estado está em ascensão e o pico da doença ainda não chegou. A recomendação do governo é que sejam permitidas, nos locais de realização dos leilões, apenas as pessoas diretamente envolvidas, como compradores, vendedores e organizadores do evento, mantenham a distância mínima de 2 metros entre as mesas e a restrição de bebidas alcoólicas, para evitar a aglomeração de pessoas, além de obrigatoriamente, disponibilizar álcool em gel para as mãos.
Prejuízo grande à saúde do TO
Flávio Milagres ressaltou que o Tocantins está numa progressão de casos, por isso, avaliou a flexibilização como precoce. “Essa flexibilização neste momento, em detrimento a questões políticas e econômicas, pode trazer um prejuízo muito grande à saúde do Tocantins”, avisou o infectologista.
Até Trump mudou o discurso
Ele lembrou da entrevista da manhã desta quarta-feira, 8, em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que se soubesse antes do tamanho do caos que a Covid-19 poderia provocar teria tomado as medidas de isolamento domiciliar mais precocemente. “Veja que contraste, discurso totalmente contrário ao que vinha fazendo”, observou Milagres, já que, inicialmente, Trump se mostrava cético sobre a eficácia do isolamento social.
Correndo contra a maré
Assim, o infectologista avaliou que se fizer essa flexibilização agora, o Tocantins estará “correndo contra essa maré”. “O isolamento é a única medida eficaz pela qual todos podem colaborar neste momento. Todos como sociedade podem colaborar fazendo ao máximo o isolamento social”, reforçou.
Análise crítica
A infectologista Carina Amaral Feriani defendeu que é preciso fazer “uma análise muito crítica” dessa flexibilização para o agronegócios. Ela disse que na manhã desta quarta-feira o jornal americano New York Times publicou reportagem sobre a evolução rápida da Covid-19 nas cidades rurais do EUA, onde dois terços já estão contaminados com casos importantes numericamente da doença.
Falsa proteção
A especialista lembrou que o Tocantins é uma região interiorana, de agronegócios, e muitas pessoas, quando começou a pandemia, deixaram as cidades e foram para os interiores para fugir do novo coronavírus, o que, para ela, é “uma situação de falsa proteção”.
Na contramão
Para Carina, é preciso avaliar o que vem acontecendo e os dados mundiais, que mostram “o quão na contramão estamos agindo”, com a flexibilização neste momento.
Onda está começando
Sobretudo, ressaltou a médica, porque “a onda no Tocantins ainda está começando”. “Essa onda não está no pico. Então, é uma precipitação e precisaria ser melhor avaliada”, avisou Carina.
Colapso da saúde
O Sindicato dos Médicos do Tocantins (Simed) já havia reagido mais cedo à liberação das atividades de leilões de bovinos anunciado pelo governador Mauro Carlesse (DEM), mesmo que com restrições. A entidade reforça as necessidades de isolamento social diante da pandemia de Covid-19 e provoca Palácio Araguaia a trabalhar em um plano de ação para enfrentar o “iminente colapso no sistema de saúde pública do Estado”.