A demanda pelo Hospital Geral de Palmas (HGP) aumentou muitos nas últimas horas, o que fez com que Unidades de Pronto Socorro (UPAs) da Capital cogitassem neste domingo, 12, transferir pacientes menos graves para o Hospital Regional de Paraíso. A informação foi confirmada pelo diretor técnico da unidade paraisense, Marcos Rodrigues. Ele confirmou à Coluna do CT que chegou a ser consultado, mas depois soube que os paciente tiveram uma piora e o Regional de Paraíso só tem condições de receber casos estáveis.
Chegamos ao caos que temíamos
Logo pela manhã um profissional de saúde afirmou à coluna que o HGP estava lotado e que se estudava transferir os pacientes para Paraíso através do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Isso não é legal. Nossas viaturas não têm condições para essa transferência, por causa do fluxo que estamos enfrentando em Palmas. As UPAS e o Estado estão sem kits para testagem, infelizmente, chegamos ao caos que temíamos, que Deus nos proteja. Estamos pedindo socorro”, afirmou a fonte.
Médicos surtando
Um médico que está no plantão relatou uma situação de caos: “Estou a cada dia mais desestimulado. Um caos. Os problemas do pronto socorro estão atingindo o Estado todo. Colegas precisam regular paciente e não tem vaga. Todos nós estamos no pico do estresse. Colegas adoecendo, surtando durante plantões”, contou.
Impasse resolvido
O médico Osvaldo Neto, diretor-técnico da UPA Norte, em Palmas, confirmou estar enfrentando “alguns problemas nas transferências” de pacientes para o HGP. “Mas me parece que resolveram esse impasse hoje [domingo]”, afirmou.
É preciso segurança
O diretor técnico do Hospital Regional de Paraíso, Marcos Rodrigues, defendeu que é preciso bastante segurança para transferir o paciente. “Não podemos colocar a vida dos pacientes em risco.”
Fluxo contrário
Ele disse que transferir paciente para Paraíso é um “fluxo contrário”. “Aqui nós não temos UTI. Tem que ser o contrário, nós que temos que enviar pacientes para eles lá [para o HGP]. Paciente de Covid-19 estável, nós temos condições de receber. Sem problema nenhum. Mas não temos condições de fazer hemodiálise, não temos leitos de cuidados intensivos”, apontou o médico.
Impasse no HGP
O diretor técnico do HGP, Luciano Lopes, confirmou à coluna que houve “um impasse” na unidade por conta de afastamentos de médicos por síndrome gripal. “Ocasionando uma dificuldade de novas admissões [de pacientes], não por falta de leitos. Já regularizada hoje [domingo], para admissão na enfermaria. Pacientes que seriam encaminhados a Paraíso serão direcionados ao HGP”, afirmou.
Sinais de gravidade
Todos os profissionais ouvidos pela coluna confirmam um fato: o pano de fundo de toda essa tensão é o elevado crescimento de casos da Covid-19 na Capital nas últimas semanas. “Trabalho também no Samu e tenho visto a crescente demanda dos casos”, afirmou o diretor-técnico do HGP. “Os casos aumentaram bastante nos últimos dias e com pacientes apresentando sinais de gravidade”, alertou o médico Osvaldo Neto, diretor-técnico da UPA Norte.
Aumento de 50,5% no mês
De domingo passado, 5, a este sábado, 11, Palmas somou um aumento de 28,6% de casos da Covid-19, de 2.205 para 2.835, um incremento de 630 novos registros em sete dias. No mês, a alta foi de 50,5% — eram 1.884 no dia 1º, portanto, são 951 novos registros nestes 11 dias de julho.
Fluxograma tem que ser seguido
O membro tocantinense do Conselho Federal de Medicina (CFM), Estevam Rivello, explicou que o nível de atenção de saúde é estratificado em primária (Programa Saúde da Família), secundária (as unidades de pronto atendimento, a UPA, o Samu e os serviços especializados, de responsabilidade do município) e terciária (um nível hospitalar que demanda que o Estado tome conta, já com uma especificidade muito grande no atendimento, com especialistas, exame de imagem). “Isso tem um fluxograma, que tem que ser seguido para que o doente não receba um atendimento inadequado”, afirmou.
Sem conversa
Segundo o médico, Palmas e o Estado construíram um fluxograma “que não foi conversado com quem libera a ambulância para fazer as transferências, que são os profissionais que lidam diretamente com o Samu”. Rivello disse que há hoje uma pactuação de fluxo entre município e Estado, pela qual, no caso de lotação dos leitos de enfermaria ou de UTI no HGP, os pacientes devem ser destinados aos hospitais regionais.
Transferência para Paraíso
O médico confirmou que houve quatro pacientes em UPA que precisaram ser transferidos e que se cogitou levá-los para Paraíso. “O Hospital de Paraíso conta com quadro insuficiente, inclusive, sem profissional médico para assistência da Covid-19. Nesse momento, o diretor técnico assumiu o plantão para cobrir essa escala”, disse.
Sem estrutura
Rivello ainda afirmou que a unidade de Paraíso só tem quatro leitos de UTI, adaptadas, com quatro ventiladores. “Não dispõe de uma estrutura melhor e ampliada para o atendimento da Covid-19, porque lá não faz hemodiálise. Muitas especialidades que o doente da Covid precisa lá não tem”, contou, lembrando que ainda a rodovia está em construção e as ambulâncias chegam a levar até duas horas para transferir paciente para Paraíso.
Fluxo invertido
Assim, o conselheiro do CFM avaliou que se trata de “um fluxo inverso, que é prejudicial ao paciente”. “E aqueles profissionais que lidam na rede de assistência não estão sabendo desse fluxograma. Esse fluxo, para ser construído, primeiro, tem que ser pensado entre a gestão municipal e estadual, depois chamados os entes responsáveis, diretor técnico da UPA Sul e Norte, o diretor técnico do Samu e os diretores técnicos dos hospitais regionais, para que se comunique esse fluxograma acertado; para que depois não sejamos pegos de surpresa.”
Erros no combate à Covid-19
Rivello disse que a Covid-19 não pode ser combatida com os erros que têm ocorrido no sistema de combate à doença. “E esses erros ocorrem porque as entidades médicas estão excluídas do debate”, alertou.
Confira a seguir nota da Sesau sobre o assunto:
A Secretaria de Estado da Saúde (SES) esclarece que durante o final de semana o Hospital Geral de Palmas (HGP), a unidade ficou temporariamente impossibilitada de aceitar novas admissões, devido à falta de profissional médico na escala, no entanto a situação já foi normalizada e os pacientes que aguardavam transferência foram regulados.
No que se refere ao transporte de pacientes, a SES esclarece que a responsabilidade pela transferência dos pacientes com quadros leves e moderados é do município de origem, ficando sob responsabilidade do estado somente a transferência dos pacientes com quadro grave e que necessitem de UTI Terrestre.
A SES esclarece ainda que a disponibilidade dos leitos é dinâmica, em razão de vários fatores determinantes. Logo, para que seja garantida a oferta da assistência, os pacientes serão regulados à unidade hospitalar em que há oferta de vagas que melhor atendem suas necessidades.
Em relação ao Hospital Regional de Paraíso, a SES declara que essa é unidade de referência para complexidade intermediária, ou seja, admite pacientes estáveis, classificados como moderados. Estando ligada à rede de atenção hospitalar no enfrentamento da COVID-19 com assistência em leitos clínicos.
Palmas, 12 de julho de 2020
Secretaria de Estado da Saúde
Governo do Tocantins
- Matéria atualizada às 7h08 de 13.7.20