Em 30 de outubro de 1938, milhares de pessoas pegaram as rodovias e imploravam à Polícia por máscaras de gás para salvar suas vidas e de suas famílias por medo da invasão marciana que ocorria em Chicago e Saint Louis, nos Estados Unidos. Os marcianos haviam aniquilado as forças de defesa e envenenado o ar com gás tóxico. No entanto, tudo não passava de um obra de ficção. Acontece que boa parte dos ouvintes não pegou o início da transmissão do programa da rádio CBS, em que a companhia “Mercury Theater” – do futuro cineasta Orson Welles, que se imortalizaria com o filme “Cidadão Kane” – fazia um rádio-teatro, inspirado no livro de ficção científica “A Guerra dos Mundos”, de H.G Wells.
[bs-quote quote=”Essas populações não foram preparadas para reconhecer quando devem evacuar a cidade, quando os sinais de um rompimento são verdadeiros, e, por isso, o pânico foi instaurado” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Quando se fala de fake news muitos a ligam a algo intangível e até sem graves consequências no mundo real, que apenas serve para provocar debates políticos surreais nas redes “antissociais”. No entanto, o episódio de domingo, 23, à noite mostrou ao Tocantins que não é assim. Uma notícia falsa tem, sim, consequências reais, no mundo real, e até pode colocar vidas em risco.
O pânico espalhado pelas redes pela falsa notícia de rompimento da Usina da Lajeado poderia ter resultado em acidentes, machucado pessoas e até ceifado vidas. Uma mentira estúpida, inconsequente e irresponsável, que precisa ser apurada de onde partiu e que os culpados sejam devidamente punidos.
De outro lado, revelou também que algo não vai bem na política de prevenção de acidentes da usina. Se a população de Miracema e Tocantínia estivesse devidamente preparada para identificar os alertas, com certeza, a fake news não as levaria ao pânico que se viu. Por isso, faz muito bem o Ministério Público Estadual ao entrar na história e cobrar da Investco, companhia responsável pela operacionalização da Usina Luís Eduardo Magalhães, a instalação de um sistema de alerta com sirenes, bem como a estruturação de um plano de evacuação eficaz para o caso de rompimento ou outra falha estrutural na barragem da usina.
A empresa afirmar, como fez, que a usina opera “em total normalidade” não é o suficiente, como o fato por si só mostrou. Essas populações não foram preparadas para reconhecer quando devem evacuar a cidade, quando os sinais de um rompimento são verdadeiros, e, por isso, o pânico foi instaurado. Essa é, sim, uma clara falha no plano de segurança da usina que não pode ser ignorada.
Há casos de outras usinas em que são realizados, com frequência, exercícios de evacuação. Neles, os moradores aprendem como reagir em caso de necessidade e – o que é importante e faltou neste episódio de Lajeado – como diferenciar os alertas verdadeiros das fake news.
Esse preparo da população é fundamental para reduzir a sensação de insegurança de quem vive nas proximidades de uma usina em época de experiências trágicas, como a de Brumadinho (MG); evitar o pânico e, com ele, acidentes que podem tirar vidas.
Autoridades locais e estaduais devem fazer coro com o MPE e exigir providências da Investco. O bem-estar e a segurança da população devem estar acima da mera palavra da empresa de que tudo está bem e não há com o que se preocupar. Brumadinho que o diga.
CT, Palmas, 25 de junho de 2019.