O emedebismo é a alma do velhos tempos em que o MDB era mesmo o MDB. Episodicamente esse espírito, que quando encarnado no partido era puro, se materializa e leva a legenda a conquistas até inimagináveis. Foi assim em 1990, quando o então PMDB surpreendeu, venceu a poderosa máquina e fez do médico Moisés Avelino governador do Tocantins.
Essa entidade sumiu por um bom tempo, corporificando-se novamente em 2006, quando o então governador Marcelo Miranda teria que enfrentar o mito Siqueira Campos. De tão descomunal a diferença de força, era visto como o épico bíblico de Davi contra Golias. Marcelo foi reeleito.
[bs-quote quote=”Com um Ataídes robustecido, na expressão de Derval, pela capilaridade da estrutura partidária do MDB, seus líderes pedem que a alma aguerrida que tem levado vários adversários da sigla à lona se incorpore num animado Freire Júnior” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
O emedebismo voltou a se materializar no cerrado em 2008, numa histórica campanha do prefeito de Palmas da época, Raul Filho. Em maio daquele ano, o então petista que hoje está no PSD falava até de não ser candidato, totalmente desmotivado, sem conseguir agregar partidos que acreditassem na sua reeleição. Seu vice, Derval de Paiva, agora presidente regional do MDB, aproveitou-se da vacilada do governo Marcelo Miranda, que atropelou o pré-candidato da sigla, deputado estadual Eli Borges, para levá-la ao palanque do nome palaciano, Nilmar Ruiz.
A evocação do espírito guerreiro foi feita a este colunista pelo então vice-prefeito de Raul: “Levaram o PMDB, mas não o emedebismo”, disse Derval, em palavras que encontraram eco em planos desconhecidos dos reles humanos. Com a demora de Marcelo de articular, Derval acelerou os passos e levou todos os nomes de peso da legenda para o palanque de Raul, inclusive Eli e até uma tia do governador. O emedebismo estava novamente materializado, e o então prefeito conquistou uma vitória memorável contra a força do Palácio de um lado, com Nilmar, e do senador João Ribeiro, de outro, com Marcelo Lelis.
Depois disso, a alma voltou ao seu descanso eterno, até que houve nova evocação, em 2014. Cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2009 e impedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011 de assumir o mandado de senador que conquistara em 2010, Marcelo Miranda teve que travar um luta hercúlea para conseguir legenda e disputar pela terceira vez o governo do Tocantins. A frente de batalha foi contra o grupo do saudoso deputado federal Júnior Coimbra, que infelizmente nos deixou este ano.
Mais uma vez o espírito iluminado, pela força de seu ectoplasma, foi visto em plena graça transitando por todos os rincões deste Estado. Marcelo, então, chegou novamente ao Palácio Araguaia.
De novo, o emedebismo se recolheu ao plano inacessível aos homens encarnados. Nova cassação e humilhação total do partido, que, por duas eleições consecutivas, não consegue sequer emplacar um candidato a governador, pela primeira vez em 30 anos de Tocantins. Nunca uma materialização do espírito emedebista foi tão necessária como agora.
É neste contexto que o conselho dos anciãos se reuniu e indicou o deputado federal Freire Júnior como primeiro suplente do senador Ataídes Oliveira (PSDB). Na verdade, trata-se da saída honrosa de um fracassado 2018 para o MDB.
O partido promete entrar com sua alma na campanha do tucano. Se isso ocorrer, e o emedebismo novamente se materializar, a corrida pelo Senado se tornará ainda mais emocionante, com seis dos candidatos disputando cabeça a cabeça as duas vagas.
Com um Ataídes robustecido, na expressão de Derval, pela capilaridade da estrutura partidária do MDB, seus líderes pedem que a alma aguerrida que tem levado vários adversários da sigla à lona se incorpore num animado Freire Júnior, disposto à batalha para salvar um pouco do que restou de 2018 em favor da legenda.
O deputado, é bom que se frise, descende, política e familiarmente, dos áureos tempos em que MDB e emedebismo conviviam encarnados. Poucos estão tão aptos a receber este espírito.
Assim, a hora do MDB é de evocação.
CT, Palmas, 14 de setembro de 2018.