Estimados leitores e leitoras! Tudo bem com vocês? Passou o dia 21 de abril e a páscoa se sobrepôs ao Dia de Tiradentes. Todo mundo quis saber é de coelhinho da páscoa e de chocolate. Quem se lembrou? Pois é, a mais de 200 anos esse brasileiro já lutava contra a cobrança do “quinto” e da “derrama”. Foi enforcado, decapitado e esquartejado porque foi um dos líderes da Inconfidência Mineira, contra a Coroa. À coroa, os mineiros tinham de repassar o chamado quinto, isto é, cerca de 20% de todo o ouro que produziam.
[bs-quote quote=”Usei esses dois exemplos para falar do HGP (a nossa Geni). Por que os políticos e a alta sociedade também não se solidarizam com o hospital? Por que é público?” style=”default” align=”right” author_name=”TADEU ZERBINI” author_job=”É economista e consultor” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/04/TadeuZerbini60.jpg”][/bs-quote]
A partir da década de 1760, a produção aurífera regrediu na Capitania de Minas, mas o quinto continuou sendo cobrado na mesma proporção. Dada a escassez de ouro, a cobrança do quinto não mais satisfazia as necessidades dos lusitanos. Como solução a esse problema, a Corte portuguesa autorizou os governadores da Capitania de Minas a cobrarem a derrama, uma forma de imposto que compensava o déficit do quinto. Não havendo o cumprimento do saldo do quinto, cobrava-se o restante deficitário com tributos sobre outras posses que os mineiros tivessem. Quaisquer bens estavam sujeitos à imposição da derrama. E hoje em dia? Quanto se paga de impostos? Muito mais que naquela época, só que quem paga são os consumidores e assalariados. Alguém se manifesta, ou a discussão vai continuar a ser sobre Bolsonaro e Lula?
Agora chega o Dia do Trabalho e mais de 13 milhões de desempregados não tem o que comemorar. Já os empregados nos poderes legislativo e judiciário não sabem mais onde colocar tanto dinheiro. Isto é democracia?
Vamos falar de doação?
Segundo o jornal Figaro, já foram doados mais de R$ 4 bilhões para a recuperação da Catedral de Notre-Dame (Nossa Senhora”), que foi atingida por um incêndio. As grandes empresas e os milionários não estão poupando recursos financeiros para recuperar a catedral. Ela é magnifica e foi construída para atender os interesses da alta sociedade.
Já o Hospital do Amor, que está sendo construído em Palmas, por meio de doações as mais diversas, também tem o apoio irrestrito da alta sociedade tocantinense. São emendas parlamentares, leilões os mais diversos e muitas outras atividades para arrecadar dinheiro. E a campanha é diária.
Usei esses dois exemplos para falar do HGP (a nossa Geni). Por que os políticos e a alta sociedade também não se solidarizam com o hospital? Por que é público?
Construir hospital não é tão difícil. Difícil é equipar e manter. Vejo muita gente querendo ajudar causas humanitárias, desde que seja com o dinheiro de governos ou de outras pessoas. Elas mesmas não colocam nenhum centavo para ajudar. Assim é fácil.
E por que devemos doar?
Os cientistas canadenses Dunn, Aknin e Norton estão há anos em busca da relação entre felicidade e doação. Por conta disso, conduziram estudos e observaram pessoas que faziam caridade com frequência. Assim, em uma de suas pesquisas compararam a despesa que algumas pessoas tinham em gastos sociais (ajudando alguém ou doando de alguma forma) com o que elas utilizavam para gastos pessoais, como pagar contas ou comprar presentes. Em relatos, essas pessoas se diziam mais felizes quando usavam dinheiro com os outros.
Em outra fase dos estudos, Norton e seu time de pesquisadores formaram 4 grupos de pessoas na University of British Columbia e cada um destes grupos tinha um valor em dinheiro para gastar de duas formas diferentes: dois deles tinham 5 e 20 dólares canadenses, respectivamente, para comprarem algo pessoal, enquanto que para os outros dois grupos foram distribuídos 5 e 20 dólares canadenses para serem gastos em benefício de outra pessoa.
Ao final do dia, após utilizarem o dinheiro, essas pessoas deram seus depoimentos e foi constatado que ambos os grupos que utilizaram o valor para gastar com outros se mostraram muito mais felizes do que antes, enquanto aqueles que tiveram o dinheiro para uso próprio não mostraram mudança. Outra informação interessante foi o fato de que não houve diferença entre a reação de quem doou mais ou menos, o que pode ser uma prova de que a doação não está relacionada com a quantidade. A pesquisa foi repetida em mais de 100 países e os resultados foram parecidos.
Essa sensação boa que acontece quando sentimos que estamos fazendo o bem pode ser a resposta fisiológica do corpo para quando doamos, gastamos dinheiro ou dedicamos algum tempo a ajudar sem pensar diretamente em nós mesmos, pois é como se fizéssemos a escolha em fazer caridade em vez de simplesmente nos favorecer. O interessante dessas pesquisas é que os resultados mostram o quanto beneficiar o outro pode trazer vantagens a nós mesmos. Gastar com o outro pode ter um grande impacto em nossas vidas e nos fazer mais felizes.
Conheci uma pessoa que dizia que não ajudava asilo de idosos de jeito nenhum e como justificava, falava que se uma pessoa idosa chega ao final da vida sozinha e com necessidades pessoais ela não seria boa. Será que ele está certo?
Egoísmo é um substantivo masculino que nomeia um amor próprio excessivo, que leva um indivíduo a olhar só para os suas opiniões, interesses e necessidades, e que despreza as necessidades alheias.
Nós estamos atravessando uma fase de muito egoísmo. Não estamos doando paciência, amor, respeito ao próximo e muitas outras coisas que poderiam fazer nosso dia a dia muito melhor e mais útil.
Você fez alguma doação que não fosse para igrejas?
TADEU ZERBINI
É economista, especialista em Gestão Pública, professor e consultor
ctzl@uol.com.br