Quando residi em Palmas, Capital do Tocantins, 2001 até 2011, as madrugadas eram tão silenciosas que chegavam a incomodar a audição daqueles que têm a curiosidade de observá-las ou curti-las.
O fato é que desde quando para lá me mudei, sentia falta de um detalhe tão importante e que faz parte da vida de todos nós.
No meu primeiro endereço o vazio e o silêncio das madrugadas se repetiam em todos os outros locais onde morei, inclusive na quadra 106 Sul, onde achei que seria definitivo pela aquisição de minha própria residência, se bem que sempre tive a convicção de nesta vida terrena nada é definitivo. E acertei, pois hoje resido novamente em Goiânia, minha segunda cidade-mãe.
O detalhe daquele silêncio que me incomodava, me fez por diversas vezes perguntar aos amigos sobre o fato e todos confirmavam o mesmo.
Questionei muitas pessoas onde eu poderia, em Palmas, ouvir o canto de um galo nas madrugadas. Ninguém sabia me informar.
O galo faz parte da vida não só de nós brasileiros, mas de toda humanidade, digo mais dos compatrícios, por sermos, quase todos, originários da vida rural ou interiorana, se bem que o galo canta, também, nas grandes cidades e capitais. Lá em Palmas vi e ouvi muitos cantarem de galo: “sou pós-graduado, mestrado, doutorado, sou bom nisso, naquilo, naquilo outro, etc.,” mas o galo, galo mesmo de verdade, não ouvi nenhum cantar.
Voltando na história, diríamos que o “gallus gallus,” ancestral dos nossos velhos e conhecidos galos domésticos é bem anterior a Cristo, pois sabemos e constatamos a presença dessa ave até no Novo Testamento, quando o Mestre disse a Pedro: “Antes do galo cantar, você me negará três vezes”. Dito e acontecido. Se não bastasse a missa do galo celebrada pela igreja católica.
Na zona rural, as viagens são marcadas entre os compadres, para serem iniciadas nas madrugadas, após o primeiro canto do galo.
Agora, residindo, novamente na minha segunda terra-mãe, Goiânia, a ausência, também, desse relógio da natureza, faz-me lembrar com saudades das madrugadas da minha infância e adolescência na querida primeira pequena terra-mãe, Dianópolis(Go/To), quando e onde estabelecia paralelos para o cantar dos galos: Os galos músicos, cumpriam apenas sua sagrada missão de saudar o sol nascente com um canto clássico e imponente; outros pareciam desafiar os vizinhos, quando cantavam, recebendo imediatamente a resposta. E assim era repetido de quintal em quintal, de rua em rua.
Diante de tudo isso e como o galo, um despertador inserido na encantadora natureza, é parte integrante da vida de todos nós, por que não criarmos o dia do galo, que seria comemorado nacional ou mesmo mundialmente? Ou mesmo estabelecermos um critério para aqueles que possuem quintais, obrigatoriamente, deveriam criar um galo, mesmo que seja um garnisé, para no caso de Palmas e Goiânia, juntarem seus cantos aos dos pássaros-pretos, bem-te-vis, rolinhas, das belas araras amarelo-azul e tucanos, que enfeitam as manhãs ensolaradas quando se deslocam ou retornam para seus ninhos no início e final do dia.
Ficam aqui minhas observações e sugestões, para que não sintamos tanto a falta do cantar de um galo em nossa bela Palmas e não menos encantadora Goiânia, afinal ele faz parte da história da humanidade e do nosso cotidiano.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com