Tudo na vida é cíclico. Basta um pouco de observação para constatarmos tal fato. Atentemos para o exemplo que a natureza nos dá com suas estações, o que nelas ocorre e tudo que nos cerca no dia a dia. Cíclico também foi a passagem de Nicolau Maquiavel por estes lados da terra.
Nascido em Florença, Itália, em 1469. Com o pai advogado, teve acesso a uma educação clássica, tanto que aos 12 anos já escrevia em latim perfeito. Mas só aos 29 anos ocupou o seu 1º cargo público. Em 1512, com a queda do poder que lhe garantia a posição de destaque, foi envolvido numa conspiração, torturado e deportado. Foi lá que escreveu o seu principal trabalho: “O Príncipe”, segundo alguns analistas, para reabilitar-se com os aristocratas que o levaram ao exílio.
Trata-se “quase” de um manual da política pela experiência que teve quando participava do poder, pela leitura de escritores que lhe antecederam ou pela observação que fazia de fora do poder. Mesmo com a queda daqueles que ignoraram a sua existência, não conseguiu voltar a exercer cargos. Com isto, logo depois, no ano de 1527, desgostoso e doente, veio a falecer no mês de junho. Escreveu Maquiavel que “Não deve ser, portanto, crédulo o príncipe, nem precipitado, e não deve amedrontar-se a si próprio e deve proceder equilibradamente, com prudência e humanidade, de modo que a confiança em demasia não o torne incauto e a desconfiança excessiva não o faça intolerável”.
Nasce daí esta questão debatida: se será melhor ser amado que temido ou vice-versa. Responder-se-á que se desejaria ser uma e outra coisa: mas como é difícil reunir ao mesmo tempo as qualidades que dão aqueles resultados, é muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha que falhar numa das duas. É que os homens geralmente são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ambiciosos de dinheiro e, enquanto lhes fizeres bem, todos estão contigo, oferecem-te sangue, bens, vida, filhos, como disse acima, desde que a necessidade esteja longe de ti. Mas, quando ela se avizinha, voltam-se para outra parte. E o príncipe, se confiou plenamente em palavras e não tomou outras precauções, está arruinado. Pois as amizades conquistadas por interesse e não por grandeza e nobreza de caráter, são compradas, mas não se pode contar com elas no momento necessário. E os homens hesitam menos em ofender aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, porque o amor é mantido por um vínculo de obrigação, o qual, devido a serem os homens pérfidos, é rompido sempre que lhes aprouver, ao passo que o temor que se infunde é alimentado pelo receio de castigo, que é um sentimento que não se abandona nunca.” Nota-se nesses parágrafos pinçados no famoso livro “O Príncipe”, que Maquiavel guardava mágoas, tinha o orgulho ferido por tudo que lhe ocorreu, o que significa ter ficado fora de governos, portanto do poder (embora efêmero) e nunca mais ocupando um cargo público.
Convivendo com esse sentimento, entendeu de escrever daquela forma sobre a manutenção do poder. Portanto, é necessário que antes de se admirar ou mesmo tentar seguir os seus conceitos, que se busque entender os momentos que viveu quando produziu o referido livro: No exílio e carregado de rancores com aqueles que o perseguiram. E pertinente seria sugerir que todos que conhecem as teorias de Maquiavel e tentam aplicá-las, ou mesmo as aplicam, possam um dia, também, ler os livros “O Pequeno Príncipe” de Saint Exupéry, ou “A arte da Prudência” de Baltazar Gracian, ainda, e principalmente, “O Novo Testamento”, que exatamente ao contrário, sugerem a busca e a prática do amor, da amizade, da fraternidade e da solidariedade para uma convivência sem cobranças ou remorsos, principalmente entre amigos e os mais próximos.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com