Caro Cleber Toledo,
Recebo suas palavras com o devido respeito e admiração pelo seu trabalho como jornalista comprometido com a verdade e com o interesse público. Seu diagnóstico sobre a tragédia social e econômica que se abateu sobre o Tocantins e o Maranhão em razão do colapso da Ponte Juscelino Kubitschek é preciso e irrefutável. O impacto desse desastre não se restringe ao luto das famílias que perderam entes queridos, mas se expande de forma devastadora sobre milhares de trabalhadores, empresários e cidadãos que dependem diretamente da circulação de bens e pessoas naquela região.
Desde as primeiras horas do acidente, fui chamado para atuar juridicamente em nome das principais organizações empresariais, de trabalhadores e da sociedade civil dos dois lados da ponte — tanto no Tocantins quanto no Maranhão. Essas entidades representam praticamente toda a população diretamente afetada pela tragédia, evidenciando a dimensão e a gravidade da crise que enfrentamos. O que presencio é um cenário de calamidade social e econômica, com demissões em massa e empresas enfrentando quedas de faturamento superiores a 90%, algumas já encerrando suas atividades. E, no entanto, não vemos a reação institucional com a urgência que a situação exige.
A ausência de um decreto de calamidade pública pelas Assembleias Legislativas do Tocantins e do Maranhão é algo incompreensível. Tal medida permitiria não apenas a destinação prioritária de recursos, mas também a adoção de medidas emergenciais para mitigar os danos irreversíveis que estão se concretizando. Disponibilizar barcos gratuitos para pedestres é um gesto necessário, mas absolutamente insuficiente. Até hoje, passados mais de 30 dias desde o desastre, não há uma só balsa para travessia de veículos entre Aguiarnópolis e Estreito, um fato que aprofunda ainda mais o colapso econômico da região. É preciso garantir urgentemente essa travessia para evitar um colapso total da economia local, além de implementar medidas concretas, como a liberação de crédito facilitado e a isenção temporária de tributos estaduais para aqueles atingidos pela tragédia.
Não me cabe, enquanto advogado, fazer críticas políticas a qualquer governo. Minha atuação tem sido direcionada exclusivamente à busca de soluções reais e concretas para a população que está sofrendo as consequências dessa inércia estatal. Contudo, não posso deixar de reforçar a necessidade de uma postura proativa e resolutiva por parte do governo do Tocantins, que ainda não demonstrou a veemência e a velocidade necessárias para enfrentar essa crise.
Sua análise sobre a viagem do governador Wanderlei Barbosa à Suíça e a ausência de coordenação no Tocantins apenas reforça a sensação de abandono que assola as populações atingidas. Enquanto o Maranhão já implementa medidas concretas, o Tocantins carece de uma liderança presente, que compreenda a gravidade do momento e que atue com responsabilidade diante dessa tragédia.
Seu artigo dá voz a milhares de pessoas que estão sofrendo, abandonadas por aqueles que deveriam estar à frente desse enfrentamento. Que suas palavras ecoem nos corredores do poder e que tragam a urgência necessária para transformar essa indignação coletiva em ação concreta.
Saudações cordiais,
Márlon Reis
Advogado