Um vídeo que circulava pelas redes sociais nessa segunda-feira, 9, mostrava toda a estupidez dos que perpetraram os atos terroristas de domingo, 8, em Brasília. Os 1,5 mil presos estão na Academia Nacional da Polícia Federal e começaram a receber informações de advogados sobre os crimes que cometeram de forma irresponsável, e dos quais, imbecilmente, sequer faziam ideia. A Polícia Civil do Distrito Federal identificou, pelo menos, 15 tipos de delitos. Alguns deles, conforme apuração do G1:
- Dano ao patrimônio público da União – crime qualificado. Pena: detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
- Crimes contra o patrimônio cultural – destruir, inutilizar ou deteriorar bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial. Pena: reclusão, de um a três anos, e multa.
- Associação criminosa – associarem-se três ou mais pessoas para o fim específico de cometer crimes. Pena: reclusão, de um a três anos (pena aumenta se a associação é armada).
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito – tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais. Pena: reclusão, de 4 a 8 anos, além da pena correspondente à violência.
- Golpe de estado – Tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído. Pena: reclusão, de 4 a 12 anos, além da pena correspondente à violência.
Ao saberem desse rol de crimes, muitos presos desataram num choro convulsivo. Não faziam ideia de que enrascada estavam se metendo. E partir de agora estarão sozinhos para encarar as consequências de seus atos. Afinal, o pateta-mor deu uma banana para eles e fugiu para Orlando, nos Estados Unidos, o que é muito apropriado, porque lá está a sede da Disneylândia.
Esses bolsoterroristas não imaginavam que foram induzidos, como gado que são, a cometer crimes, e que devem ser condenados a multas severas e a passar um bom tempo atrás das grades. Eles se viam numa “aventura patriótica, heróica, para salvar a Nação”. Nunca vi um movimento político, como afirmei nessa segunda, que juntasse tanta gente estúpida, de graves déficits cognitivos. É, sem sombra de dúvida, o movimento político mais patético da história do Brasil. Nunca houve outro com tanta gente sonsa, facilmente manipulável, imbecil a ponto de fazer um atentado terrorista achando que estava agindo pelo bem do País.
Nem na Inconfidência Mineira, de 1789, que usou Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, como bode expiatório; nem a Intentona Comunista, de 1935, em que os malucos liderados por Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, achavam que conseguiriam, num rápido movimento, implantar o comunismo no Brasil. Não há nada, em termos de imbecilidade, estupidez, burrice mesmo, que se compare ao bolsonarismo, na colônia, império e República.
Tiradentes e Carlos Prestes não contavam hino para pneu, não mandavam sinais para extraterrestre, não oravam em porta de quartel em favor de golpe militar por uma ditadura que salvasse a democracia; não tomaram remédio para piolho e carrapato achando que iam se proteger de uma pandemia mortal. Nada disso. O que estamos assistindo precisa ser estudado pela antropologia, psicologia e psiquiatria. Não pela ciência política.
Inclusive, o único ponto em que o governo do ex-presidente foragido Jair Bolsonaro (PL) se mostrou competente é justamente na manipulação desse grande segmento obtuso da sociedade. O processo de extrema manipulação se deu, resumidamente, da seguinte forma:
1) Aproveitou-se da negação da política que teve seu ápice de 2013 à cassação da ex-presidente Dilma Rousseff;
2) Usou dos preconceitos históricos da classe média, quando surge o tríptico “Deus, Pátria, Família”, oriundo do fascismo brasileiro, o Integralismo dos anos 1930. Esse grupo concentra todo racismo, homofobia, aporofobia, anacronismo (acreditar que alguém vai implantar o comunismo hoje – e diga-se: essa gente não tem a mínima noção conceitual do que seja comunismo) e elitismo;
3) O isolamento dos seguidores, na verdade, uma espécie de confinamento. A característica básica do bolsonarista raiz é sua aversão à imprensa profissional, como Estadão, Folha e todo grupo Globo, e o apego único e exclusivo à mídia do sistema fascista: rádios, emissoras de TVs e sites de fiéis bolsonaristas, bem como grupos e canais exclusivos de Telegram e WhatsApp. Assim, os manipuladores conseguem filtrar que tipo de informação os estúpidos devem consumir. Tudo o que esse lixo ideológico publica é verdade, bem como tudo o que a imprensa profissional publica é mentira, ainda que não leiam, não assistam e não ouçam nada desse último para a comparação de dados.
A cada fala atrapalhada, fato controvertido, revés político de Bolsonaro e seu clã e do governo fascista que implantou, esse sistema de comunicação manipulador criava uma versão palatável (tudo fake news), que era deglutido como uma verdade dogmática e, portanto, inquestionável.
Por isso, que, grosso modo, para entorno de quase 30% da população, o que Bolsonaro e os seus colocam como verdade, por mais absurdo (como agora dizendo que os atentados terroristas são atos da esquerda infiltrada), é recebido, assimilado e defendido de forma raivosa. Qualquer relativização, qualquer tentativa de ponderação, de se ver a situação por um prisma minimamente racional, é recebido como heresia por essa seita, e o herético é devidamente expurgado.
Diante desse quadro de absoluta lavagem cerebral, é compreensível a total alienação que vimos no Brasil nesses quatro anos, sobretudo, nesses 60 dias do pós-eleição e no domingo de terrorismo em Brasília.
Contudo, é óbvio que não significa que o País deva também relativizar os crimes perpetrados. Nunca! Anistia, jamais! Se o Brasil não punir severamente esses debilóides, isso vai se repetir e será cada vez mais grave, até que a extrema direita fascista consiga o intento de derrubar nossa democracia.
Para o bem do Brasil, por outro lado, os atos terroristas insanos de domingo jogaram toda a República contra os bolsoterroristas acéfalos. Isso ficou muito claro na noite dessa segunda-feira, quando o presidente Lula, ministros dos STF e governadores desceram a rampa do Palácio do Planalto de braços dados. Ou seja, os “patriotários”, com seus atos selvagens, implodiram o próprio movimento político, o mais patético da história do Brasil.
Reforço que a punição aos terroristas, mesmo diante desse quadro de total alienação, precisa ser exemplar para que nunca mais se repitam as cenas absurdas e lamentáveis que assistimos. Como afirmei nessa segunda, a democracia é nosso maior valor, independente de qual seja nosso campo político, direita ou esquerda.
Portanto, viva a democracia!
Palmas, 10 de janeiro de 2023.