A partir de agora as pré-campanhas ganharão intensidade. Quem deseja mesmo efetivamente ser candidato precisa não apenas falar de sua vontade, mas deixar claro, via pesquisas, que é aceito pelos eleitores. Por isso, se movimentar bastante, ocupar espaço na mídia e nas redes sociais, chamar o debate sobre os temais mais urgentes para o município são ações estratégicas às quais todo pré-candidato deverá recorrer se quiser se consolidar na corrida sucessória.
Pela agenda política, essa musculatura precisa ser conquistada ou ampliada até a abertura da janela partidária, em março, e depois os pré-candidatos usarão esse capital eleitoral numa guerra interna para conquistar legenda e apoio de líderes para então poder levar seus nomes à convenção partidária do final de julho.
Um dos trunfos que os aliados querem para as suas campanhas é a elevada aprovação do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). Se o roteirista do “House Of Cards Tocantins” não virar a mesa de cabeça para baixo, como tem feito nos últimos anos – semana passada todos já tivemos um susto com a operação da Polícia Federal na Secretaria Estadual da Saúde –, e o cenário atual se mantiver, o apoio de Wanderlei nas eleições municipais poderá ser decisivo para muitas campanhas. Por isso, claro, a disputa de palacianos para receber o selo de candidato do governador é grande.
Mas faz bem Wanderlei de se manter quieto neste momento. Misturar gestão com eleição, sobretudo com um ano de antecedência, não faria bem ao Palácio, nem a seus pré-candidatos. O governo, que, apesar de um solavanco aqui e outro ali, navega por mares calmos, passaria a enfrentar um oposição furiosa, engrossaria o coro da única voz que clama no deserto, justamente porque o eleitorado o deixou falando sozinho no ano passado.
Apesar da força da popularidade do governador, em algumas das maiores cidades, que não são da base, os prefeitos com boas gestões darão muito trabalho. Não será nada fácil derrotá-los. Casos de Wagner Rodrigues (SD), de Araguaína; de Josi Nunes (UB), de Gurupi; de Celso Morais (MDB), de Paraíso; e de Ronivon Maciel (PSD), de Porto Nacional. As informações que chegam dessas cidades é que as administrações deles estão deslanchando, o que cria um enorme complicador para suas oposições.
São cidades onde Wanderlei deve caminhar com os adversários dos prefeitos. Contudo, como sempre digo, a popularidade e a máquina estadual são muito importantes, mas a conjuntura local e o perfil do candidato se sobressaem. Foi assim, por exemplo que o ex-prefeito Ronaldo Dimas (PL), gestor brilhante, foi reeleito em 2016 e elegeu o sucessor, Wagner, em 2020, tendo, respectivamente, Marcelo Miranda (MDB) e Mauro Carlesse (Agir) apoiando adversários.
No caso de Palmas, a prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) não terá reeleição. Portanto, a briga aqui, na Capital, será pelo apoio de duas máquinas. Os aliados do Palácio querem ter Wanderlei em seu palanque e vários candidatos também sonham em ver Cinthia com eles. Entre os pré-candidatos palacianos, Janad Valcari (PL), Jairo Mariano (PDT) e Ricardo Ayres (Republicanos). Pelo que se apreende dos corredores do Palácio e de Assembleia, Janad leva vantagem neste momento.
Mesmo com o já referido bom momento, será muito mais difícil para Wanderlei vencer a eleição de Palmas se quiser criar um candidato do nada do que se decidir subir num “cavalo” já arriado. A disputa ficaria mais cara e com riscos muito maiores. Essa é a lógica que parece estar prevalecendo. E faz sentido. Como a coluna já repetiu algumas vezes, o Palácio não sai vitorioso de uma eleição em Palmas desde 2000, com Siqueira Campos apoiando Nilmar Ruiz. Assim, vencer na Capital em 2024 seria um marco importante para o governo.
Pelo lado de Cinthia, temos alguns pré-candidatos interessados, como é o caso da palaciana e deputada estadual Vanda Monteiro (UB), do deputado estadual Júnior Geo (Podemos) e do ex-senador Eduardo Siqueira Campos (UB).
Como terceira via, por ser rechaçado por Paço e Palácio, aparece o ex-prefeito Carlos Amastha (PSB), cujo desafio será construir um grupo político que lhe dê musculatura.
No frigir dos ovos, a mensagem é a seguinte: acreditar que só o apoio do Palácio, mesmo robustecido pela elevada popularidade de Wanderlei, resolverá a parada é um erro. Perfil do candidato e conjuntura local pesarão. Mas ter o governador como aliado pode fazer toda a diferença, sobretudo nas cidades em que a disputa for muito acirrada. O caso de Gurupi em 2020 ilustra isso: com a corrida sucessória ombro a ombro, Josi acabou levando a melhor pela força do governo Carlesse.
UMA REFLEXÃO HISTÓRICA
Em 1993, o ministro-chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, foi afastado do cargo pelo presidente Itamar Franco devido a denúncias de envolvimento dele no esquema de corrupção do Orçamento. Ele era investigado pela CPI dos Anões do Orçamento.
Itamar Franco chamou Hargreaves, um dos seus amigos mais próximos, e afirmou: “Meu governo não pode ser envolvido com denúncias contra você”. O ministro, então, respondeu: “Estou pedindo demissão para responder ao inquérito”.
E realmente deixou a pasta.
Depois de 101 dias, Hargreaves foi reconduzido ao cargo de ministro-chefe da Casa Civil porque o relatório final da CPI dos Anões do Orçamento considerou as denúncias contra ele improcedentes e apenas recomendou o envio de sua documentação patrimonial e fiscal à Receita Federal.
CT, Palmas, 7 de agosto de 2023.