Já faz algumas semanas que chegam os sinais de que alguns partidos da base do governador Wanderlei Barbosa – composta pelo dele, o Republicanos; União Brasil, PDT e Progressistas – têm se movimentado rumo às eleições de 2024 sem a devida sincronia com o Palácio Araguaia. Ou seja, dizem importantes – e preocupadas – fontes governistas, cada um quer expandir seu território a despeito do projeto que os convergiu para a vitoriosa campanha de 2022.
Os dois alvos das críticas são PDT, do vice-governador Laurez Moreira, e principalmente o União Brasil, da senadora Dorinha Seabra Rezende. Os insatisfeitos dizem que essas duas legendas estão filiando líderes de grupos que não estiveram com a campanha governista do ano passado, atropelando aqueles que trabalharam pela reeleição de Wanderlei e colocando o governador em frequentes saias justas. O caso mais emblemático sempre citado é o do prefeito de Araguaína, Wagner Rodrigues (SD), que, dizem esses governistas, deixou o governador muito incomodado. Ainda há o da prefeita de Santa Fé do Araguaia, Vicença Lino, recém filiada ao UB, que carrega no currículo o fato de sua cidade ter sido uma das sete que derrotaram Wanderlei em 2022.
A questão é que as relações de forças mudaram no Estado. Na época em que Siqueira Campos era o líder absoluto, uma decisão isolada desse tipo era simplesmente impensável. O insurgente seria subitamente expurgado da vida pública, sem choro nem vela. O governador concentrava em si toda a hegemonia de um grupo composto por mais de 20 partidos, com pulso forte, pela respeitabilidade que o próprio nome Siqueira Campos exalava e (para mim, o melhor) sem concessões, como emendas (quem decidia como aplicá-las, inclusive, era o governador), cargos na máquina, entre outras benesses em troca da fidelidade de mandatários.
Com a perda da força do siqueirismo, essa relação entre os líderes foi democratizada, e hoje nenhum deles se sobrepõe pelo pulso firme. A conquista precisa ser feita pelo diálogo, pelo convencimento. O lado positivo é, claro, que estes novos tempos dão mais margem à renovação do plantel – o que é uma necessidade democrática e para o oxigenação das ideias na vida pública do Estado –, mas também cria justamente essa situação em que o líder passa a pensar somente em seu projeto pessoal e relega o grupo ao qual pertence ao quinto plano.
A impressão que fica, para quem conversa o dia todo com deputados, prefeitos, vereadores e secretários de diferentes correntes internas do Palácio, é que esse início de debandada pode ter relação com o pouco espaço dado pelo governo aos principais atores de sua campanha de 2022, e até ao fato de não ter procurado atrair outros da bancada federal, por exemplo, que não o apoiaram. Ficou no ar ideia de que deputados não ligados ao governo foram esnobados, com recados nas entrelinhas de frases educadas que soam como “não precisamos de você”.
Assim, com pouco a perder ao se definir por uma carreira solo, essas lideranças agora tocam seus projetos pessoais e vão se acomodar com o governo onde as candidaturas de 2024 forem convenientes ou não atrapalharem esses objetivos individuais.
Se confirmada em 2024 essa fragmentação da base que parece se iniciar, o governador Wanderlei vai ter uma oposição com mais consistência, o que não existe hoje. Atualmente, ele voa em céu de brigadeiro, com apenas uma voz clamando no deserto pela absoluta falta de ressonância no que diz.
No entanto, com uma fissura mais considerável, essa unanimidade de quase 100% com a qual Wanderlei conta vai se acabar. O que, diga-se, é ótimo para a democracia, mas que impõe muito mais dificuldades para se governar.
CT, Palmas, 30 de outubro de 2023.