Poucos sabem, mas fui um dos fundadores da Federação Tocantinense de Futebol. E, por ironia, no momento de sua fundação, a presidência da entidade foi inicialmente oferecida a mim. Refluí naquele instante, acreditando que, pela envergadura política de Leomar Quintanilha, ele era o nome mais indicado para conduzir a recém criada Federação. Eu estava errado. E que fique claro, não estou aqui acusando ninguém de qualquer coisa, até porque não tenho motivos para isso. Estou contando fatos acontecidos e deixando claro minha contrariedade com o sistema que impera no nosso sistema esportivo. Isso não é só no futebol, todas as federações funcionam assim. Eles jogaram o jogo como é, e ganharam, e eu voltei para casa com um processo e uma conta! Por isso minha luta para que se crie uma AGÊNCIA REGULADORA DOS ESPORTES, inclusive, sugeri ao Deputado Federal Ricardo Ayres tal preposição no Congresso Nacional.
Há mais de três décadas, a Federação Tocantinense de Futebol (FTF) tem sido comandada por uma mesma figura: Leomar Quintanilha. Um reinado marcado pela ausência de alternância de poder, blindado por articulações políticas e um sistema que não admite rupturas. Durante todo esse tempo, apenas uma vez essa estrutura foi abertamente desafiada,
e foi por mim.
Minha candidatura não foi um gesto de vaidade. Foi um grito por renovação, por democratização do futebol tocantinense, que há anos se arrasta à margem de uma administração concentrada, sem espaço para novas ideias ou participação plural. Naquele ano, nossa eleição foi feita de maneira simbólica, improvisada, sob o capô de um Fusca, porque a sede da FTF, entidade de todos, foi trancada para impedir o processo democrático. Ainda assim, vencemos. Vencemos com votos legítimos. Assumimos por força de liminar. Por alguns dias, o Tocantins teve outra liderança no futebol.
No entanto, nossa permanência foi curta. Durou cerca de 20 dias. Dias em que lutamos para manter vivas as ações da Federação, para não permitir que o futebol tocantinense parasse. Nesse curto período, arcamos com despesas, mantivemos compromissos, fizemos o possível para que o sistema continuasse funcionando, mesmo sob ataque. Por ironia, e injustiça, fui posteriormente responsabilizado judicialmente por essas ações, mesmo com as devidas prestações de contas apresentadas.
O mais cruel foi que, impedido de entrar na sede da própria entidade que havia acabado de ser eleito para presidir, não pude acessar documentos, arquivos, provas. Lutava contra um sistema com as mãos amarradas. E, mesmo assim, resisti.
Em meio à batalha, fui ao Rio de Janeiro, à sede da CBF, na tentativa de legitimar o nosso mandato junto à entidade máxima do futebol brasileiro. Mas lá ouvi, com todas as letras, que o presidente reconhecido por eles era Leomar Quintanilha. A força política sobrepôs à verdade jurídica. A estrutura nacional já havia decidido quem deveria continuar mandando no futebol do Tocantins.
Não tive instrumentos, recursos, nem aliados suficientes para manter a luta. Me venceram não com argumentos, mas com a brutalidade de um sistema fechado, viciado e cruel. Ao fim, fui retirado do cargo para o qual fui eleito por vontade legítima, pelas “forças ocultas” que regem o futebol brasileiro, essas que mantêm velhas oligarquias intocáveis, mesmo diante da vontade de mudança.
Essa história não é apenas sobre mim. É sobre o que o futebol tocantinense poderia ter sido se tivesse tido a chance de respirar novos ares. É sobre como, em um sistema tão corruptível e resistente à renovação, uma eleição feita sob o capô de um Fusca representa mais democracia do que décadas de mandatos eternos.
E mesmo tendo perdido, ainda acredito: só há vitória real quando se luta por justiça, e essa luta, ainda que esquecida, continua sendo um marco de resistência.
TOM BELARMINO
É ex-prefeito de Pedro Afonso