O Tocantins teve cinco governadores em dez anos, com duas cassações e uma renúncia no período de 2009 a 2019. Trocamos de chefe de Executivo a cada dois anos, quando o resto do País fez isso a cada quatro. Como a coluna já registrou em outra oportunidade, o resultado desses solavancos foi a mais profunda crise fiscal e financeira do Estado mais jovem da Federação. As dificuldades que os demais Estados precisaram talvez de décadas e décadas para enfrentar, nos atropelaram em menos de três.
[bs-quote quote=”Se por um lado, conseguimos melhorar os índices sociais e econômicos em relação ao período em que éramos norte de Goiás, de outro, é fato que poderíamos estar muito mais desenvolvidos se os gestores tivessem demonstrado mais ética, responsabilidade e espírito público” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Isso por conta da disputa insana de poder que cada um desses processos traumáticos gerou, não a partir de 2009, mas de 2005, quando o Tocantins passou pelo rompimento da finada União do Tocantins, que, sob a liderança de Siqueira Campos comandou os destinos do Estado de forma hegemônica até então. Para vencer o siqueirismo, os políticos se uniram em torno de Marcelo Miranda, e, diante da força do cacique utista, foi preciso avançar o sinal das concessões ao funcionalismo, do endividamento e da gastança desenfreada.
Essa prática de cabular o voto do servidor, entregando benefícios sem qualquer lastro com a realidade orçamentária, prosseguiu nos governos seguintes. A cada ruptura institucional, com cassação ou renúncia, fazia-se urgente conquistar apoio para garantir a reeleição, que, apesar desse esforço, não foi conquistada em 2010 por Carlos Gaguim e em 2014 por Sandoval Cardoso, mas as contas estão sendo pagas até agora.
Com Gaguim, além dos benefícios a servidores, houve também o aumento descomunal dos repasses aos Poderes — Assembleia, Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas, Ministério Público e Defensoria —, feito após a derrota para Siqueira em outubro de 2010. Essa concessão de um índice bem maior para essas instituições só serviu para abrir ainda mais a sangria do Estado e a gastança absurda delas com folha. Mesmo com muito mais recursos — os repasses de duodécimos cresceram absurdos 175% de 2010 a 2018, enquanto arrecadação própria do Tocantins aumentou 65% —, todos os Poderes estão no limite do comprometimento da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Paralelo a esses abusos nas políticas fiscal e financeira, o Estado ainda era acometido pelos casos de corrupção, que colocaram no alvo de operações da Polícia Federal, que apuram possíveis desvios que, somados, podem ser bilionários, três dos últimos quatro governadores. Siqueira Campos, Sandoval e Marcelo são investigados pela Ápia [os dois primeiros] e Reis do Gado [o último]. Dos três, dois já foram presos — Sandoval responde em liberdade depois de passar algumas semanas na Casa de Prisão Provisória de Palmas (CPPP) e Marcelo se encontra encarcerado numa sala do Estado Maior no Comando-Geral da Polícia Militar.
Como tenho afirmado, não são fatos a se comemorar, mas a se lamentar, duplamente, pelo possível desfalque contra a sociedade, mas também pelo drama familiar que esses líderes enfrentam. Contudo, como diz uma frase de sabedoria, o plantio é livre, mas a colheita é obrigatória.
O grande resumo desses 31 anos é que a liderança deste Estado falhou miseravelmente com o Tocantins. Se por um lado, conseguimos melhorar os índices sociais e econômicos em relação ao período em que éramos norte de Goiás, de outro, é fato que poderíamos estar muito mais desenvolvidos se os gestores tivessem demonstrado mais ética, responsabilidade e espírito público.
Porém, apesar das imensas dificuldades criadas pela insana disputa de poder dos últimos 15 anos, em cada trauma político que surgia, temos potencialidades que vão muito além da ambição de nossos líderes, de sua visão estreita e voltada para os próprios interesses. Posição geográfica privilegiada, riquezas naturais imensas e áreas para o crescimento da produção como poucos.
O que falta é que nós, como sociedade, sejamos mais participantes dos nossos destinos e que deixemos de terceirizar nosso futuro. é igualmente necessário que os líderes — políticos e dos Poderes em geral, é bom que se frise — demonstrem mais espírito público e passem a ter mais preocupação com os interesses maiores do Estado.
Só falta isso para o Tocantins transformar seu “voo de galinha” em “voo de águia”.
CT, Palmas, 5 de outubro de 2019.