O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot revelou ter planejado assassinar o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e se suicidar logo em seguida. O episódio está em um livro de memórias que Janot lança neste mês, porém, ele confirmou o nome do alvo apenas nestas quinta-feira, 26, em entrevistas à Folha, ao Estadão e à Veja. “Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio àquela algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha. Só não houve o gesto extremo porque, no instante decisivo, a mão invisível do bom senso tocou meu ombro e disse: ‘não'”, conta Janot no livro.
Chegou a engatilhar
Em entrevista à Folha, o ex-procurador-geral acrescentou que planejava assassinar Gilmar antes do início de uma sessão no STF. Segundo ele, o episódio ocorreu perto do fim de seu mandato à frente da PGR, em setembro de 2017. Já à Veja, Janot disse que chegara a engatilhar a arma a menos de dois metros do ministro. “Fui armado para o Supremo. Ia dar um tiro na cara dele e depois me suicidaria. Estava movido pela ira. Não havia escrito carta de despedida, não conseguia pensar em mais nada. Também não disse a ninguém o que eu pretendia fazer. Esse ministro costuma chegar atrasado às sessões. Quando cheguei à antessala do plenário, para minha surpresa, ele já estava lá. Não pensei duas vezes. Tirei a minha pistola da cintura, engatilhei, mantive-a encostada à perna e fui para cima dele. Mas algo estranho aconteceu. Quando procurei o gatilho, meu dedo indicador ficou paralisado. Eu sou destro. Mudei de mão. Tentei posicionar a pistola na mão esquerda, mas meu dedo paralisou de novo. Nesse momento, eu estava a menos de dois metros dele. Não erro um tiro nessa distância. Pensei: ‘Isso é um sinal’. Acho que ele nem percebeu que esteve perto da morte”, contou.
Suspeitas sobre a filha
Meses antes, Janot havia pedido a suspeição de Gilmar em um caso envolvendo Eike Batista, que era defendido pelo escritório de advocacia da esposa do ministro, Guiomar Mendes. O ex-procurador diz que Gilmar reagiu lançando suspeitas sobre sua filha, Letícia Ladeira Monteira de Barros, que havia representado a OAS no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Ajuda psiquiátrica
Em mensagem enviada à Folha, o ministro do STF disse ter ficado surpreso com a revelação e recomendou “ajuda psiquiátrica” a Janot. “Sempre acreditei que, na relação profissional com tão notória figura, estava exposto, no máximo, a petições mal redigidas, em que a pobreza da língua concorria com a indigência da fundamentação técnica. Agora ele revela que eu corria também risco de morrer”, acrescentou Gilmar.