Se o cronograma da Justiça Eleitoral continua, o dos pré-candidatos já furou. Não há a mínima condição de se fazer pré-campanha sob quarentena. Eventos partidários de filiações festivas, que estimulam os ânimos de líderes e cabos eleitorais, estão fora de cogitação. Ou seja, o ponto mais complicado do processo com a mudança na legislação eleitoral, que pôs fim às coligações proporcionais, a construção de chapas fortes de vereadores, está completamente comprometido. Isso, por óbvio, fragilizará as próprias pré-candidaturas a prefeito.
[bs-quote quote=”Político que está preocupado com eleições nesta altura não tem a mínima ideia da gravidade do momento, o que, por si só, o desqualifica para a vida pública” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
O caso da prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, é bem ilustrativo. Ela vinha numa luta interna árdua para pacificar o PSDB, seu partido, em torno de seu projeto de reeleição. Conseguiu isso há coisa de duas semanas, quando pôde se concentrar na construção de sua chapa de vereadores. Então veio a pandemia do coronavírus. Pergunte a Cinthia se ela está tendo tempo — isso há uma semana e meia — de pensar em pré-campanha.
Vamos dar um salto para a reta final da pré-campanha, a partir de maio, quando são necessárias reuniões frenéticas para se discutir alianças, composições para dar musculatura às campanhas majoritárias. Sem chances. Ninguém pode arriscar a vida para se reunir em grupos ou mesmo individualmente. Alguém pode dizer que existem os recursos tecnológicos de tele e videoconferências para esses encontros. Quem vai colocar conversas de coxia em mecanismos que podem gravar?
Outro salto temporal agora para julho, quando se prevê que o Brasil estará no pico da pandemia. Como fazer convenções, o ápice da pré-campanha, que junta milhares de pessoas para dar gás para os candidatos irem para as ruas em busca de votos?
Então, chegamos à campanha a partir de agosto, com o País mergulhado na apreensão, sabe-se lá com quantas mortes, com quantos infectados, quantas pessoas passando necessidade por falta de emprego, com o derretimento de suas receitas e rendas. Qual o clima para se pedir votos? Mais: como juntar pessoas para se fazer reuniões, comícios e caminhadas? Como colocar os cabos eleitorais andando pelas ruas com um fantasma rondando a cidade, vitimando qualquer um, a qualquer momento?
Além isso, como bem já sugeriu o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, existem os espertalhões que já estão se aproveitando do momento para cometer ilegalidades eleitorais, como a distribuição de cestas básicas para “ajudar” a população neste momento de coronavírus e isolamento social.
Não há o menor clima nem as mínimas condições de se realizar as eleições de outubro. Político que está preocupado com eleições nesta altura não tem a mínima ideia da gravidade do momento, o que, por si só, o desqualifica para a vida pública.
Em 2020, só haverá uma eleição viável, a darwiniana da seleção das espécies. Nela, os mais prudentes, que se resguardarem, ficarem em casa em isolamento social, sobreviverão. Os imprudentes, que ainda insistem em festas, eventos e exposições públicas, seguirão as vias naturais preconizadas por Charles Darwin e serão extintos.
Por isso, se quiser sobreviver, esqueça eleições. Fique em casa!
CT, Palmas, 23 de março de 2020.