Até por volta de maio de 2008, o então prefeito de Palmas, Raul Filho, tinha muita dúvida sobre se deveria disputar a reeleição. Apesar de uma gestão elogiada dentro e fora do Tocantins na área de Educação, Raul estava muito desgastado e parecia desmotivado. Na época cogitava até mesmo de lançar o presidente da Câmara, Carlos Braga.
No entanto, Raul é essencialmente um animal político. De muito faro e tato. Seu vice na época, Derval de Paiva, tanto quanto. O então petista disputava com a ex-deputada federal e ex-prefeita Nilmar Ruiz o apoio do Palácio Araguaia, comandado por Marcelo Miranda, que não se decidia. Ora sinalizava para um lado, ora para outro.
[bs-quote quote=”É a tese que sempre defendo: uma excelente administração pode perder eleição se não zelar pela política — saber se ‘vender’ para o eleitorado, ocupar espaços e obter apoio dos líderes e partidos” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/07/ct-oficial-60.jpg”][/bs-quote]
No meio dessa disputa, partidos pequenos mas importantes — como PDT, PPS e outros — aguardavam o governador chamá-los para uma conversa, o que também nunca ocorria. A então vereadora pedetista Edna Agnolin tinha sido uma das líderes que uniram essas agremiações para discutir em conjunto sua participação nas eleições municipais daquele ano.
Foi nesse impasse, sob total paralisia política do Palácio Araguaia, que o tato e o faro político prevaleceram. Derval arrebanhou os partidos pequenos e, num gesto de grandeza, como faz parte de seu elevado espírito republicano, abriu mão da vaga de vice e colocou Edna no lugar, garantindo musculatura a Raul, porque esse grupo tinha gente de muita densidade eleitoral, como a própria Edna, Ivory de Lira, Wanderlei Barbosa e outros nomes de peso.
Depois, em outra inabilidade política do Palácio Araguaia, Derval assegurou a Raul ainda mais força eleitoral. Foi quando o governo Marcelo Miranda atropelou o então deputado estadual Eli Borges na convenção do MDB. Eli caminhava a passos largos para realizar o sonho de disputar a Prefeitura de Palmas. O Palácio escalou o deputado estadual José Augusto Pugliesi, que operou o trator que atropelou o projeto de Eli, na época brigado com Raul, porque o irmão dele, Joel Borges, tinha sido preterido na Secretaria do Desenvolvimento Rural. O prefeito havia escolhido o indicado de Carlos Braga, Clemente Barros Neto.
Contudo, numa costura muito bem amarrada, Derval soube aproveitar a profunda decepção de Eli, que superou as divergências com o prefeito e se transformou numa poderosa força política em prol da candidatura de Raul. O Palácio levou o MDB para o palanque de Nilmar, mas o prefeito ficou com os emedebistas históricos, quem que realmente tinham votos, a seu lado. Numa frase antológica de Derval na época a este colunista: “Eles [Palácio] ficaram com a sigla, mas nós ficamos com o emedebismo, o espírito do MDB”.
A virada de Raul foi impressionante: o então prefeito, desacreditado até maio, foi reeleito com 44,52% dos votos válidos contra 33,24% para Marcelo Lelis. Nilmar acabou ficando em terceiro lugar.
O que fez uma gestão desgastada conquistar uma vitória acachapante? Ela fez política com dois dos quadros mais habilidosos do Estado. É a tese que sempre defendo: uma excelente administração pode perder eleição se não zelar pela política — saber se “vender” para o eleitorado, ocupar espaços e obter apoio dos líderes e partidos.
Caso exemplar foi da própria Nilmar em 2004, que terminava um mandato muito bem avaliada, mas se viu no meio da maior crise política do Estado, praticamente o auge do rompimento da União do Tocantins, com os grupos de Marcelo e Siqueira Campos se afastando. Essa briga dos grandes fez a política do grupo desandar, e isso permitiu que a oposição crescesse exponencialmente naquelas eleições.
Há ainda aqueles que acham que apenas fazendo obras vão ganhar eleição. É bom que olhem para a história e reflitam.
CT, Palmas, 11 de setembro de 2019.