Antes das eleições de 2018, a coluna defendeu várias vezes que o vencedor tinha que ser quem prometesse o inferno, não o céu. Mergulhado na mais profunda crise fiscal de sua história, o Estado não conseguia pagar fornecedores, plano de saúde, transferiu a folha para o dia 12 e não dispunha de um real para investimento. Não por erro de apenas um governo, mas por todos os que vieram a partir do rompimento da finada União do Tocantins em 2005 e que se entregaram à guerra fratricida do vale-tudo para se manter no poder.
Há uma narrativa de setores mais progressistas de que responsabilidade fiscal é coisa de liberal, e que o Estado não deveria se preocupar com isso, mas “cumprir seu papel de investir no social” — leia-se: educação, saúde, segurança, habitação, etc. É o discurso fácil que de quem considera que dinheiro do Poder Público brota do chão da Secretaria da Fazenda. Esquecem, por exemplo, que figuras de centro-esquerda e de esquerda, como o ex-governador Espírito Santo Paulo Hartung (MDB) e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), foram muito elogiados justamente porque fizeram gestão de muita responsabilidade fiscal. A questão, portanto, não é se se deve praticá-la ou não, mas como.
Sem ela, o Poder Público gasta tudo que arrecada com folha e custeio e, estrangulado, não consegue sequer crédito no mercado financeiro. A consequência direta é justamente que não pode cumprir seu papel de investir no social.
Nesse sentido, a vitória do governador Mauro Carlesse (PSL) em 2018 foi muito positiva. Terminadas as eleições, começou a implantar medidas duras de ajuste das contas do Estado, que exigiu tremendo sacrifício de servidores e de toda a sociedade, mas, passados três anos, o que se vê é o governo liquidando a folha na data legal, fornecedores recebendo em dia e o — o mais importante — voltando a investir.
Essa conquista do Estado é ainda mais importante em meio à uma pandemia que sufoca o setor produtivo e gera desemprego. Se está difícil, imagine como seria se o Tocantins estivesse mergulhado na profunda crise de 2018.
Não se está dizendo aqui que governo atual é perfeito. Tem erros e dificuldades que precisam ser superados. Há os que acham que o ajuste foi pequeno ou maquiado. No entanto, é fato que não existe mais aquela pressão de fornecedores e servidores por atrasos como se viu até 2018. Então, alguma coisa boa ocorreu. Claro que quem é oposição ao governo precisa mesmo dizer que não está satisfeito, que faria tudo diferente e até melhor. Faz parte do jogo eleitoral. Mas não é esta mentalidade que deve servir de parâmetro para a sociedade, depois dos traumas vividos pelo Estado.
É importante, então, considerar que, se o perfil de candidato defendido na última eleição era o que prometesse o inferno e não o céu, agora é necessário que o próximo governador mantenha esta postura de responsabilidade fiscal. Também que a aprofunde, ao mesmo tempo que, com a máquina azeitada (fruto dos esforços dos últimos três anos), implante um cronograma de pagamento dos direitos dos servidores e aumente os investimentos para melhorar os serviços públicos.
Seja o vitorioso o candidato de situação ou da oposição, isso é o que menos importa. O que é essencial é que não aja como se o Tesouro estadual fosse infinito. E esta é a reflexão que todo tocantinense precisa começar a fazer desde já para que não retrocedamos ao populismo e ao desespero financeiro de um passado não tão distante.
Post Scriptum
Chacina oficial – O que se viu nessa quinta-feira, 6, na comunidade de Jacarezinho, no Rio, nem de longe foi uma operação policial calcada em ações de inteligência, como deveria. Mas uma chacina promovida pelo Estado. Tratar quem mora em comunidade pobre como bandido é típico da mentalidade obscura, ignara e medieval que sequestrou o Poder no Brasil. O Estado não deve ter a matança como política pública, seja na segurança, seja na saúde.
Promete – A Câmara de Palmas retomará, a partir de terça-feira, 11, as três sessões legislativas semanais. No ritmo que tomaram, promessa de muito espetáculo de boteco.
Livres para a disputa – Com a decisão unânime do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dessa quinta-feira, 6, que rejeitou as ações da Procuradoria e do ex-senador Vicentinho Alves (PL), o governador Mauro Carlesse (PSL) e o vice-governador Wanderlei Barbosa (sem partido) estão livres para a disputa eleitoral de 2022. O primeiro mira a vaga de Kátia Abreu (PP) no Senado e o segundo, suceder a cadeira do companheiro de chapa no Palácio Araguaia.
Do tamanho de um cometa – As últimas manifestações do presidente Jair Bolsonaro, com críticas estúpidas à China (depois, pressionado, negou o que disse claramente), ao ministro Luís Roberto Barroso, do STF, e ao relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), mostram o tamanho e a profundidade do desespero dele. O presidente sabe o que vem por aí e, para usar a expressão de um amigo íntimo de Bolsonaro, Fabrício Queiroz, é do tamanho de um cometa.