Desde o post do deputado estadual licenciado Eduardo Siqueira Campos (DEM) no Twitter sobre o gabinete que teria se tornado um “salão de beleza” em todos têm um apelido que o meio político está em polvorosa. Mensagens e ligações passaram a chegar a todo instante com duas perguntas tão óbvias quanto angustiantes: “Qual é o gabinete e qual o meu apelido?”. Minhas respostas para os dois questionamentos são… não sei. E não sei mesmo.
Na correria do dia-a-dia de uma redação, quase não me sobra tempo para dar um pulo quinzenalmente nos amigos do Sthilos Cabeleireiros, na JK, para passar máquina 2 na cabeça cujos cabelos a cada ano se escasseiam mais e mais, quanto mais para ficar papeando em gabinete em que desocupados só se preocupam em cravar epítetos em tudo e todos. De toda forma, o que se sentiu desde o post de Eduardo foi o crescimento de uma enorme indignação contra o desconhecido “gabinete da injúria”, como um revoltado o classificou para mim, que, conforme as listas que estão sendo distribuídas via WhatsApp, estaria descambando para a gordofobia, intolerância religiosa e racismo.
[bs-quote quote=”Entre os alvos dos gracejos nada diplomáticos estão senadores, vereadores, deputados, secretários e jornalistas. Ninguém escaparia de um nome estranho, a partir de sua silhueta, crença, defeito físico, trejeito ou boatos sobre a personalidade” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor da Coluna do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/CT-trabalhado-180.jpeg”][/bs-quote]
Nessas listas há alcunhas como Trovão, Quenga, Nelcivan Júnior, Pedófilo, Rolha de Poço, Chupeta de Baleia, Macumbeira, Gordo que se acha independente, Judas Escariotes, Dorminhoco e uma série de outros nomes pitorescos.
Entre os alvos dos gracejos nada diplomáticos estão senadores, vereadores, deputados, secretários e jornalistas. Ninguém escaparia de um nome estranho, a partir de sua silhueta, crença, defeito físico, trejeito ou boatos sobre a personalidade. Ou seja, a encarnação viva do politicamente incorreto, tudo contradizendo os marcos civilizatórios mais básicos.
Sobre a reação aos infames tratamentos dispensados, além dos indignados, existem dois grupos interessantes. Um deles enfurecido porque ficou de fora, e com isso se sente desprestigiado. O sujeito está se achando desimportante porque não foi capaz de cavar um apelidinho sequer. Será que é tão socialmente inexpressivo que transitou por lá sem ser notado? Travei um diálogo com um desses no final de semana prolongado:
— Qual o meu apelido lá?
— Não sei… Não tenho acesso e nas relações de apelidos que recebi você não foi citado.
— Como não? Não é possível! Passo em vários gabinetes toda semana, conto piadas, dou risada… Impossível que ficaria de fora de uma lista com pessoas tão destacadas da sociedade…
— Pode ser pelo enorme respeito de que você desfruta — contemporizei.
Outra reação é típica da política: usam essa situação para difamar o adversário. Aproveitam da boataria para incluir apelido que a pessoa mesmo deu ao adversário e que estava ansioso por uma oportunidade para espalhar. Assim, acrescenta o epíteto que cunhou para seu desafeto nos rodapés das listas que giram pelas redes sociais. Ainda faz questão de mandar a relação à sua vítima para dizer: — Olha o que aquele gabinete infame está dizendo a seu respeito. Um absurdo!
Não sei realmente de qual gabinete se trata, se ele existe mesmo, se todos os apelidos que circulam são verdadeiros, e qual é a alcunha de cada um. Mas uma coisa, contudo, concluí: a metáfora com salão de beleza não retrata bem o episódio. Mais certo mesmo é comparar a um playground, porque haja infantilidade.
CT, Palmas, 18 de novembro de 2019.