Como defensor do voto distrital misto, não gosto de ver candidatos de outros campos invadindo território alheio. Por mais boa vontade que um paraquedista tenha com a região que não é a sua, o fato é que não é seu domicílio. Figura tão somente como um complemento para lhe garantir a vitória. É muito diferente de como ele busca representar na Assembleia a região em que mora, conhece as pessoas desde a infância, onde estão maciçamente seus votos.
Não desprezo, óbvio, o apoio que um deputado estadual dá a uma região que não é a dele. Sobretudo aquelas tomadas por paraquedistas e que, por isso, não conseguiram eleger representantes locais. Se o parlamentar obtivesse os votos complementares e não se lembrasse mais daquele eleitorado, essas regiões estariam totalmente desassistidas.
A questão, portanto, é outra: as regiões precisam eleger seus líderes locais para representá-la. Defendo que o cidadão trate o processo eleitoral como se já houvesse o sistema distrital. Resumindo a mensagem: não vote em candidato que não é da sua região. Cada um no seu quadrado.
Esta campanha, diga-se, tinha que ser de iniciativa dos líderes regionais que pretendem chegar à Assembleia. É preciso formar a opinião pública com essa cultura do voto distrital a ponto de aqueles líderes que abracem paraquedistas passem a ser mal vistos pela comunidade local.
Afinal, um líder que pede voto para candidato de fora está trabalhando contra a sua região. Está impedindo que a comunidade tenha os próprios representantes no Parlamento, aqueles que moram nela, vivem os bons e maus momentos de sua população, conhecem profundamente os problemas locais e podem ser cobrados a qualquer dia pelo cidadão, porque este sabe até onde fica a casa de seu deputado.
Parlamentar do Bico do Papagaio volta ao Bico do Papagaio no final de semana. Não vai para a região sul ou sudeste, a não ser para um evento ou outro. Passa os dias em que não está em sessão na Capital rodando as cidades de seu colégio eleitoral, de onde sai a maioria mais do que absoluta dos votos que o elegem.
De suas emendas, no mínimo, 50% vão para a sua região e divide o restante para as outras áreas onde obteve os votinhos que complementaram sua vitória eleitoral.
E não está errado. Age duplamente com razão. É óbvio que deve priorizar sua região de domicílio e, claro, precisa ter a responsabilidade de não permitir o desamparo de cidades de outros “distritos” que não têm representantes e confiaram nele. Assim, não há aqui nenhuma crítica aos paraquedistas, mas, sim, aos líderes locais.
Àqueles que abraçam candidatos de fora contra os de sua região e aos candidatos de sempre que não se mobilizam para formar a opinião pública para a necessidade de votar em líderes locais, ficam digladiando entre si e depois choramingam que não se elegeram.
Este editorial é repetitivo. A cada véspera de eleição escrevo sobre o tema, mas o script não muda. O roteiro desse filme sempre tem o mesmo final.
No Tocantins, nas últimas eleições as principais vítimas têm sido as regiões sul e sudeste, que sempre contribuem decisivamente para a vitória de candidatos do norte e do centro do Estado, que são muito mais bairristas, além de possuírem uma massa muito maior de eleitores.
A pergunta é: até quando?
CT, Palmas, 6 de julho de 2021.