Membro tocantinense do Conselho Federal de Medicina (CFM), Estevam Rivello vê com preocupação o plano de descontingenciamento anunciado nesta sexta-feira, 29, pela Prefeitura de Palmas após mais de 60 dias de quarentena como forma de combate à Covid-19. À Coluna do CT, o médico argumenta que a Capital ainda não apresenta um cenário favorável para a reabertura e indica que a decisão do Paço não foi adotada com critério técnico e científico, mas sim com o foco no fator econômico e político. O novo coronavírus já infectou 532 pessoas no município, sete delas foram a óbito.
Medida só seria com progressão lenta, extenso número de leitos e sem mortes
Estevam Rivello comenta que o próprio cenário mundial reforça a necessidade de cautela para a reabertura. “Nenhuma cidade do mundo, depois de determinar a suspensão de algum serviço, tem retornado tão rapidamente em curva de ascensão. Se no cenário de Palmas estivéssemos com uma progressão muito lenta, sem surgimento de morte, com a possibilidade de uma grande rede assistencial hospitalar, com números de leitos de retaguarda suficiente, talvez a medida fosse acertada e apropriada”, afirma.
Primeiro pico chega em junho
Em relação à rede de assistência hospitalar em si, Estevam Rivello entende que a capacidade pode não ser suficiente, isto porque o pico no Tocantins deve chegar somente no próximo mês. “A gente pode ser pego de surpresa. Não é suficiente a quantidade de leitos e de profissionais que temos no Estado. É arriscado [a abertura] neste momento de curva de ascensão, de crescimento, estando os números comprovando que junho será o pior mês da evolução desta doença para este primeiro pico. Acho uma medida desarrazoada”, complementa.
Comércio aberto, mas quem vai querer se arriscar?
Na avaliação de Estevam Rivello, a Prefeitura de Palmas talvez esteja “cedendo à pressão” dos empresários. Por outro lado, o médico alerta que a reabertura não significa retomada da economia. “As pessoas não vão procurar o comércio, tendo em vista o medo, o pânico. Quem vai querer se arriscar? Falar em reabertura é colocar [as pessoas] em risco mesmo”, afirma.
Falsa impressão de que a situação está tranquila
O médico também fez uma critica quanto ao discurso da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) ao defender o descontingenciamento. “Se a gestora faz a fala no sentido de abrir e que vai fechar no momento que perceber que estes números estão aumentando, isto reflete que a situação está tranquila, e não é o que a gente vê no Estado, que é um crescimento muito grande da taxa de internação e sem um plano B de retaguarda”, comenta.
Baixa testagem é nítida e clara
Aliado à quantidade de leitos insuficientes, Estevam Rivello alerta para a evidente subnotificação de casos na Capital. “Os dados do município de Palmas não refletem a realidade. É preocupante a baixa testagem que vem ocorrendo, isto é nítido e claro. Aos pacientes com sintomas leves não está sendo oportunizado [a testagem], os profissionais da saúde não estão sendo testados”, lamenta.
Decisão focada nas questões econômicas e políticas
Para o membro do CFM, a plano de descontingenciamento foge dos bons exemplos no combate à pandemia. “A fala tem que ser técnica e infelizmente ela [Cinthia Ribeiro] adota uma postura que é diferente do que o mundo vem adotando para esta doença. Isto nos assusta porque não é uma decisão técnica, científica, embasada na ciência, mas tão somente nas questões econômicas, locais, políticas”, afirma.
Grandes o suficiente
Rivello ressaltou que a prefeita e o secretário de Saúde, Daniel Zemuner, têm autonomia na ação. “Só que é preciso saber que essa ação vai se refletir no futuro. E o que a gente espera é que no futuro as coisas estejam totalmente organizadas e equilibradas, que nada saia do controle e que eles tenham razão”, ponderou. Porém, afirmou que espera que os dois “sejam grandes o suficiente para assumir, no caso de um momento de descontrole, e voltar atrás no que foi feito”.