Não resta dúvida de que em 2018 o país saiu rachado do processo eleitoral. Mas pensava-se que, começando o ano seguinte, os ânimos se acalmariam.
Iniciou-se 2019. Do governo federal eleito, aguardava-se que presidisse o país, pelo contrário, perpetuou o clima tenso, como se o país vivesse uma eterna eleição.
2019 foi, de ponta a ponta, sinônimo de instabilidade política. Junto com essa, mostrou-se uma recuperação econômica fraca.
[bs-quote quote=”O mandatário faz do dia a dia do país um show de horrores. Estratégia: desviar a atenção da população para os grandes e graves problemas que o país enfrenta e que ele não tem capacidade de administrar” style=”default” align=”right” author_name=”RAYLINN BARROS DA SILVA” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2020/01/rallyn_barros_180.jpg”][/bs-quote]
O ano de 2019 terminou, mas os problemas não. No final dele, um sinal vermelho despertou do outro lado do mundo: um vírus fora descoberto na China, a segunda maior economia do mundo.
Início de 2020: o vírus chegou ao Brasil. Pensou-se que era só um problema de saúde. Estávamos enganados.
De cara, percebeu-se e ainda percebe-se que o nosso problema não era só o vírus. O governo demorou a agir: políticas públicas chegaram com atraso.
Gradativamente foi-se percebendo o quanto a política interfere na saúde: o ministro da saúde, de tão popular, foi logo demitido: o governo mostrou não ter medo da opinião pública.
As mortes avançam: o presidente se faz de desentendido, age como se o problema não fosse com ele, sendo ele o mandatário máximo da nação.
Logo se mostrou evidente o discurso de uma suposta oposição entre economia e saúde. Quando se sabe, sem saúde e vida, não existe economia.
Para barrar o avanço do vírus, autoridades locais restringem a circulação de pessoas. O comércio em muitos lugares fecha, é o isolamento social. A economia que já estava fragilizada, agora agoniza. Empregos evaporam.
Para além dessa tragédia econômica, uma maior ainda: vidas se perdem as centenas, milhares. O problema é de saúde, é econômico, mas também político.
O povo teme o vírus, mas nem todos tem a convicção de que a política também tem o poder de matar.
Enquanto isso, radicais, fantoches de políticos, mostram que a loucura não tem limites. O país segue dividido, angustiado, perplexo, com medo, assustado.
A situação do Brasil é singular, totalmente diferente das demais nações que enfrentam a pandemia. Ainda mais quando se tem no poder pessoas despreparadas para liderar processos tensos e difíceis.
O mandatário faz do dia a dia do país um show de horrores. Estratégia: desviar a atenção da população para os grandes e graves problemas que o país enfrenta e que ele não tem capacidade de administrar.
Lembrando que, do ponto de vista moral e ético, serve para qualquer pessoa quanto mais para nossos gestores, mais vale unir do que dividir.
E as instituições, atacadas diariamente pelo mandatário, parlamento, judiciário, imprensa, assistem perplexos.
Os chefes dos outros poderes? Inertes, conscientes da gravidade do momento, optam por não enfrentar o presidente, como estratégia, talvez, de não agravar ainda mais a situação, optam apenas por notas de repúdio.
O que se percebe claramente nesse momento do país é primeiro, a incompetência gerencial do governo. Segundo, a gravidade do avanço do vírus e suas consequências.
Nesse sentido, o que o governo enxerga? Ao que parece, a sua reeleição daqui dois anos. O que o povo mais necessitado enxerga? O medo de morrer, o medo do desemprego, o medo da fome.
A história do Brasil mostra que nunca passamos sem crises e períodos de turbulência. Mas agora, em 2020, o problema é muito, muito maior. Por quê? Porque no momento somam-se três crises: sanitária, econômica e política.
Portanto, que nós possamos sobreviver a esse momento extremamente tenso, num país onde de tudo existe um pouco, menos estabilidade para enfrentarmos nossos desafios.
Principalmente o desafio atual, sobrevivermos a esse vírus, invisível, mas que nos mostra visivelmente toda a nossa fragilidade, no sistema público de saúde, mas também nossa fragilidade econômica e mais ainda, política.
RAYLINN BARROS DA SILVA
É doutorando e mestre em História pela Universidade Federal de Goiás
raylinn_barros@hotmail.com