Na tentativa de responder aos meus confrades da Academia Dianopolina de Letras, Watila e Bonfim, no que se refere à ponte que existia sobre o Córrego Getúlio, o mesmo riacho que homenageio em poema inserido no livro Poemas Azuis, cuja frase final assim delineio: … “Córrego Getúlio, divisa da minha terra com o resto do mundo!” Hoje confesso que tal assertiva retrata a realidade da minha época de sonhos e devaneios de criança-adolescente.
Acrescento, ainda, que estou a cavaleiro para falar sobre o assunto, pois aquele riacho era íntimo do meu dia a dia, mas não sem antes cumprimentar o nobre Bonfim pela feliz lembrança da antiga Rua 7 de Setembro e dizer que a poesia me encanta exatamente pelas nuances que permitem aliar sonho e realidade, a infância e a visão surreal que encerra.
[bs-quote quote=”Diga-se de passagem, que o destino do Aeroporto se constituía no sonho maior de todas as crianças da nossa época. Era lá que complementávamos nossos sonhos de voar, de ver gente chegando e partindo” style=”default” align=”right” author_name=”JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/10/JoseCandido-PovoaNova-180.png”][/bs-quote]
Agora vamos para o fato em questão, retornando ao tempo que se foi: A Rua 7 de setembro, nasce na praça onde ficava a antiga sede da Prefeitura, o serviço de comunicação da Vasp, com seus telegrafistas dialogando com o mundo através do código morse, o cômodo que abrigava o velho motor a diesel que fornecia energia para a cidade até as 22:0h, até a chegada da energia hidráulica gerada pela usina montada e comandada por Tio Coque, Engenheiro Mecânico; depois vinha a residência do primo Nélio Póvoa/Idinha, com sua contígua loja Ponto Certo, que sua vez eram vizinhos dos Tios Aníbal/Guiomar, que eram vizinhos do Sr. Antônio Leite/Dª Zefa, esta que fazia o melhor doce de leite de corte do mundo; Depois Tia Petronília, Tios Zeca/Amelinha, Padre Magalhães com seus inesquecíveis Juvenato, um internato para jovens de cidades vizinhas que iam para DNO para estudar no Ginásio João D’Abreu, e o Cine Atanaram; os primos Hagahus/Josa, Tios Chico Ribeiro/Marieta, os primos Rui/Maria Póvoa, Tio Coquelin/Diana, com sua lanchonete incomparável e Dª Celina Valente, fechando assim o círculo da praça; já na rua de saída da praça rumo Norte, encontrávamos a residência do Juíz de Direito, Dr. Magalhães/ Dª Iraci, vizinhos dos primos João Leal/Carminha, depois Sr. Bolacha, na sequência Jovino Valente e família, depois nossa amiga Maura e por fim Juvêncio/Alta; do outro lado, dos que me lembro, Bagó-Bar, Sr. Zózimo e família, mestre Veríssimo e família; logo abaixo a cadeia pública e se não me trai a memória, de ambos os lados mais umas duas ou três casas e a rua se transformava, literalmente, num trilha, onde só passavam pedestres e animais e que seguia contornando as margens do Córrego Getúlio e terminava na porta da residência de Xenofontes e família, pais de Pitágoras; Aquela trilha morria na Rua Benedito Póvoa, que transformava-se numa íngreme ladeira, que terminava exatamente na única ponte que existia naquele Córrego, aliás, uma ponte que nunca foi pinguela – o âmago do questionamento dos nobres Confrades – , sempre um pouco mais moderna, com aterramento, embora feita de madeiras. Tão acentuada era aquela ladeira que a maioria dos automóveis que pretendiam atravessar o córrego, para lá se dirigiam através da Rua do Bandeirante Bar, onde quase no seu final, moravam Sr. Efraim, Tia Ritinha, mãe do meu estimado cunhado Gerson e tantos outros moradores que agora não me recordo.
Da ponte em diante estava uma rodovia, se assim podemos chamar, que se iniciava numa subida íngreme e algumas curvas e margeava um imenso pasto que chamávamos de roça do Sr. Franklin, esposo da prima Quinô e prosseguia passando pelo Cavalcante, Campo Velho, Aeroporto, antigo e atual e nos levava até a Cachoeira da Luz, aquela que substituiu o velho motor a diesel. Diga-se de passagem, que o destino do Aeroporto se constituía no sonho maior de todas as crianças da nossa época. Era lá que complementávamos nossos sonhos de voar, de ver gente chegando e partindo. E aquele acesso não era fácil, pois o meio de transporte era a carroceria de um caminhão, cujas viagens eram coordenadas pelos Irmãos Póvoa, denominados agentes da Empresas Aéreas Cruzeiro do Sul, depois da VASP, instalados no sobrado da Loja Póvoa até hoje existente.
Portanto, com a permissão que a licença poética me concede, cumprimento o estimado Bonfim, mas lembrando que a rua pioneira dos pioneiros, que até provocava uma certa e saudável rivalidade entre os jovens moradores da rua de cima e da rua de baixo, e que faziam nossos sonhos desaguarem do outro lado do mundo, era a Rua Benedito Póvoa, o que não desmerece em momento algum as belas colocações do estimado confrade quando canta em poema as lembranças da Rua 7 de setembro, o que reforça em mim, sobremaneira, a certeza de que a poesia atenua o coração de criança que nunca deixa de sê-lo no poeta, para livre reavivar o passado, curtir o presente e continuar sonhando. Desculpem-me se me fiz prolixo ou se me esqueci de alguém.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado. Membro fundador e titular da cadeira nº 12 da Academia de Letras de Dianópolis(GO/TO), sua terra natal.
jc.povoa@uol.com.br