Tenho ao alcance de minhas mãos, em minha mesa de trabalho, as obras do historiador e geógrafo Júnio Batista e do jornalista Otávio Barros sobre a história do Tocantins, referências para vestibulares, concursos e também para a produção das minhas análises e opiniões. As aventuras políticas recentes do Estado conheço muito bem porque as vivi e as escrevi, mas, para tratar do passado, sempre recorro a esses dois importantes autores. Contudo, depois do que assisti semana passada, na reta final da janela partidária, que se fechou no sábado, 7, acho que terão que publicar novas edições de seus livros para atualizar o número de municípios tocantinenses.
Cada pré-candidato que ligava para a coluna dizia que o convite recebido para que mudasse de partido vinha com a garantia de que o congressista que domina a sigla tinha 50, 30, 40, 60 prefeitos. Com a soma de todas as ligações e trocas de mensagens, o total deve ter chegado a algo em torno de 500 prefeitos tocantinenses, desatualizando as relevantes obras de Júnio Batista e Otávio Barros, que ainda falam em 139 municípios.
[bs-quote quote=”Com a janela partidária agora fechada e a filiação garantida, como farão a partir de julho os prefeitos que assinaram as malfadadas listas de apoio, os congressistas também lavarão as mãos, e quem já entrou não pode mais sair” style=”default” align=”left” color=”#ffffff” author_name=”Cleber Toledo” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Na prática, ou o número da cidades aumentou consideravelmente desde as eleições municipais de 2016, ou tem gente sendo enganada e só vai descobrir isso nas campanhas para as eleições de outubro.
Deve ter prefeito figurando em três ou quatro listas de apoio a congressistas. É o desespero do gestor municipal para garantir recursos para seu governo. Com a profunda crise que abate as prefeituras, o dinheiro extra está nas mãos da bancada federal. Como não há ajuda sem retorno no pragmatismo político, para ter acesso às famigeradas e escravizantes emendas parlamentares, os prefeitos precisam garantir que apoiam o deputado ou o senador.
Como esses apoios verbais perderam credibilidade, os parlamentares têm pressionado o gestor a assinar um documento em que diz estar ao lado do fulano ou beltrano. Para receber recursos e beneficiar a população vale tudo, então, o prefeito assina.
A última coisa que isso significa é que o signatário estará na campanha desse congressista ou de quem ele indicar para outros cargos. Afinal, a partir a julho esse poder de pressão perde o sentido, e cada prefeito vai pedir votos para quem melhor lhe for conveniente.
Contudo, para os congressistas donos de partidos, é importante dizer que têm 30, 40 ou 50 prefeitos para atrair pré-candidatos competitivos para as suas legendas.
Com a janela partidária agora fechada e a filiação garantida, como farão a partir de julho os prefeitos que assinaram as malfadadas listas de apoio, os congressistas também lavarão as mãos, e quem já entrou em sua legenda não pode mais sair, se quiser disputar as eleições de outubro. Não há outro caminho. Ao descobrir que o Tocantins ainda tem apenas 139 municípios, ao recém-convertido só restará espernear, se conformar e seguir com a vida pública.
Afinal, da mesma forma que não pode aumentar o número de prefeitos, também não há como alterar o calendário eleitoral.
CT, Palmas, 9 de abril de 2018.