Caro Fábio,
Imagino o nível de pressão sobre você e sua equipe neste difícil momento de transição do transporte coletivo das concessionárias para o município. Claro que não seria uma tarefa fácil, mas, mesmo que as críticas se acirrem agora e que os desacertos iniciais sirvam de combustível para os opositores inflamarem ainda mais os insatisfeitos, fato é que a não renovação do contrato com as empresas que há décadas faziam esse serviço era mais do que necessária.
Por isso, tenho dito que a prefeita Cinthia Ribeiro teve muita coragem de ousar o que há muito a população cobrava do poder público municipal. Mas, justamente pelo tempo de adaptação que essa profunda mudança exige, os usuários precisam ter paciência. Tudo vai se acomodar no seu devido lugar e o sistema voltará a fluir dentro da normalidade.
Se o transporte público deve ficar com o município ou voltar para as empresas, essa é uma questão que o tempo deve responder e que, tenho certeza, você e sua equipe vão descobrir com o passar dos meses. Pessoalmente, eu preferia que a própria prefeitura tocasse o serviço. Mais que isso: que o município azeitasse de tal forma esse sistema que a tarifa zero, geral e irrestrita, se tornasse realidade e o custo do transporte público fosse absorvido pela máquina administrativa, como ocorre com a limpeza urbana e a iluminação pública.
Hoje, influenciado pelo professor João Bazzoli, não vejo mais que isso seja uma utopia. Quantos palmenses deixariam o carro na garagem para ir ao trabalho de ônibus, tornando o fluxo de veículos mais tranquilo, com menos acidentes e menos poluição? Quantos começariam a procurar mais o comércio e outras opções de lazer distantes de sua casa? Quanto isso significaria de mais impostos para o município e muito maior volume de vendas em lojas, lanchonetes, etc? Claro, Fábio, está muito longe da realidade atual. Mas a municipalização é o caminho mais curto a ser tomado para nos levar a esse sonho.
Agora, contudo, o que temos é a necessidade de fazer o transporte público voltar à normalidade sob o comando do município. Numa entrevista que fiz com o professor João Bazzoli no início desse debate, ela já havia alertado que a prefeitura passaria por uns oito meses de turbulências, mas que iria se aprumar e tocar o transporte coletivo sem dificuldades. Ao que tudo indica, presidente, ele tem razão. Até porque sua agência vai precisar de tempo para construir a expertise e dominar um sistema que é complexo.
Na primeira entrevista que me concedeu você afirmou que o município deve ficar à frente do transporte coletivo por até dois anos e, só então, decidir se ficará com ele ou se fará nova concessão, já conhecendo profundamente seu funcionamento. Quando estiver neste estágio, ainda que se decida por entregar o serviço a empresas, com a prefeitura dominando o sistema, a qualidade do contrato será outra, com termos muito mais favoráveis à população. A ATCP terá condições exatas de dizer o que o transporte coletivo precisa para atender seus usuários à altura que merecem.
Caso a prefeitura conclua que construiu a competência necessária para ela mesma tocar o transporte, os resultados também favorecerão os munícipes, e, como disse, pessoalmente, ficarei ainda mais satisfeito.
Então, esses meses de intempéries cairão totalmente no esquecimento. O que significa que a coragem da prefeita Cinthia neste momento e a sua, por aceitar uma missão tão árdua, terá valido todas as noites mal dormidas.
Não era mais admissível continuar como estava, em que o município pouco sabia das minúcias do sistema, em que a sociedade manifestava extrema insatisfação com o transporte que lhe era oferecido e, pior, sem qualquer perspectiva de melhora.
Quando se tem seriedade, competência, disposição em acertar e transparência na relação com a sociedade, os resultados começam a aparecer. São essas as virtudes que vejo em você, que não tem fugido ao diálogo. Aqui mesmo, na Coluna do CT, logo após a municipalização, já aceitou conceder entrevista em vídeo, sem recusar qualquer questão. Depois participou de um debate que fizemos em parceria com a UFT, com a participação de especialistas; e, diariamente, tem respondido nossas dúvidas com muita presteza.
Assim, presidente, reforço não ter dúvida de que, a despeito do que for decidido lá na frente, se municipalização ou nova concessão, o resultado desse doloroso processo corajosamente iniciado pela Prefeitura de Palmas será positivo para a nossa população.
Desejando a você todo sucesso, termino colocando-me à sua inteira disposição para contribuir numa trincheira também importante nessa sua empreitada, que é levar informação de qualidade para os usuários do transporte coletivo.
Saudações democráticas,
Cleber