O final de semana mostrou que as pré-campanhas vão só ganhar intensidade a partir de agora em Palmas e em todo o Estado. E temos datas eleitoralmente atraentes daqui para frente, que tendem a tornar essa movimentação ainda mais frenética, como Dia das Crianças e Natal. Fato é que a pré-campanha está bastante antecipada.
Um dos motivos, no caso da Capital, pode ser porque a prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) não tenha direito à reeleição. Ou ainda porque uma das mais fortes pré-candidatas, a deputada estadual Janad Valcari (PL), tem se mostrado muito dinâmica no páreo desde o início do ano – há quem diga que desde que assumiu a presidência da Câmara de Palmas –, ainda que ela nunca assumiu explicitamente a pré-candidatura. Mas claro que nem precisaria.
Mesmo em ritmo frenético, as dúvidas ainda são maiores do que as certezas no tabuleiro, tanto no que diz respeito a partido e quanto à conjuntura político-eleitoral. A posição mais confortável talvez seja a do ex-prefeito Carlos Amastha, que tem certeza de legenda, o PSB, e a decisão de disputar não depende de fatores externos. Pode ser que a certa altura ele conclua que o cenário não lhe seja favorável e reflua. Mas é uma decisão praticamente de foro íntimo, sem qualquer atrelamento a movimentos de terceiros.
Os outros, não. Alguns estão encalacrados na questão partidária; outros, à conjuntura.
No caso de Janad, ela ainda não tem o apoio explícito, claro e cristalino da cúpula do PL no Tocantins. O senador Eduardo Gomes, presidente regional da sigla, não quer fazer isso nesse momento. Afinal, um dos melhores enxadristas deste tabuleiro, o parlamentar acompanha com calma budista os desdobramentos da corrida sucessória antes de mexer as suas peças. Claro, não tem só uma.
Se Gomes, por algum motivo, decidir com seu grupo que não apoiará Janad, como fica a pré-candidata? Precisará deixar o PL, e seu caminho natural seria o União Brasil. Mas, para sair, ela dependeria de uma carta de liberação de sua atual legenda.
Outra pré-candidata, a deputada estadual Vanda Monteiro, que já havia disputado em 2020, vive uma situação até mais delicada no União Brasil, partido que resultou da fusão do DEM com o PSL. Há 3,5 anos, Vanda tinha o PSL nas mãos e fundo eleitoral que lhe davam segurança para concorrer. Desta vez, ela não terá a mínima chance de se candidatar pelo União Brasil, comprometido até a medula com o projeto de Janad. Assim, Vanda precisa encontrar um outro partido e ainda conseguir uma carta de liberação da atual legenda.
Júnior Geo fica numa insistência com o Podemos, que engoliu o PSC, ex-partido do deputado, que não dá para entender. Ou a legenda abraça a sua pré-candidatura, ou é melhor cair fora o mais rápido e buscar outro abrigo. Um projeto que traz a fórceps a sigla para seu lado é quase certeza que será fracassado. Em Palmas mesmo temos um episódio relativamente recente.
Nas eleições de 2008, o MDB atropelou a pré-candidatura de Eli Borges para apoiar Nilmar Ruiz. Os emedebistas desceram do palanque da ex-prefeita e foram apoiar a reeleição de Raul Filho. À Coluna do CT, na época, o histórico modebra Derval de Paiva deu o resumo da ópera: “Levaram o MDB [o Palácio, na época sob o comando de Marcelo Miranda], mas não emedebismo”. Nilmar amargou a terceira colocação. Há aquele provérbio chinês: “Você pode levar um cavalo até a água, mas não pode obrigá-lo a beber”.
Assim, essa relutância de Geo para entender o óbvio de que precisa meter a viola no saco e pegar a estrada para encontrar seu destino é algo incompreensível. Mas, ainda que a ficha dele caia, e deve cair, precisará definir onde amarrar seu cavalo. A Rede Sustentabilidade o quer e o partido tem projeto, porém, sem tempo de rádio e TV e fundo eleitoral atraente. O PSDB de Cinthia é uma possibilidade, mas aí Geo terá outra queda de braço com o mesmo pré-candidato a prefeito que ficou com o Podemos, Eduardo Siqueira Campos (ex-UB).
Eduardo teve mais bom senso. Percebendo que o UB já está ancorado no projeto de Janad saiu com uma elegante carta à presidente regional, senadora Dorinha Seabra Rezende. Contudo, a pré-candidatura dele está amarrada ao PL – os Dimas compõem fielmente o grupo do senador Eduardo Gomes, uma relação de décadas e muito alinhada, como ficou evidente nas eleições estaduais do ano passado. Nesse pacote, tem ainda que ver para que lado a prefeita Cinthia vai pender.
Outro pré-candidato, Jairo Mariano, até tem neste momento a segurança partidária, no PDT de Laurez Moreira, mas precisa mostrar ao governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) que é competitivo e que pode garantir a vitória do Palácio em Palmas, e quebrar um tabu que vai para 24 anos. O último governador que venceu a eleição da Capital foi Siqueira Campos em 2000. Se conseguir isso, terá o forte apoio do Palácio, que vive seu melhor momento de popularidade em 20 anos. Caso contrário, pode nem ter o PDT, que dificilmente ficará em Palmas fora do palanque governista.
Mariano tem feito a lição de casa. Está mexendo muito, reunindo-se diariamente com líderes e moradores em geral, usando as redes sociais, entre outras ações. Mas só o tempo vai mostrar se toda essa movimentação deu resultado.
CT, Palmas, 3 de outubro de 2023.