Concordo plenamente com o vereador Rogério Freitas (MDB), quando ele criticou as vaias de servidores de Palmas à prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) durante a solenidade em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, na Câmara, na manhã dessa quinta-feira, 14. Como disse o parlamentar, não é hora nem lugar. Leva ao constrangimento não só a prefeita, mas todas as homenageadas, já que todas elas estão no centro daquela atividade legislativa. Para os servidores, o que é pior, gera uma imagem muito negativa diante da sociedade, o que é ruim para as suas justas reivindicações.
[bs-quote quote=”Pode ser que a administração se revele um total desastre, e reconheceremos isso prontamente. No entanto, afirmar isso hoje é desconhecimento do quadro financeiro herdado ou pura má-fé por interesses pessoais frustrados” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Mas o que chamou a atenção do protesto acabou não sendo as vaias em ambiente impróprio, mas a reação nobre e civilizada de seu alvo, a prefeita Cinthia Ribeiro. Lembro que a coluna criticou quando, em setembro de 2017, os profissionais da educação em greve foram classificados de “velha política” e até chamados de “vagabundos” por fazerem um protesto durante a solenidade do Dia da Pátria.
Ao contrário, do que se fez no passado, a reação de Cinthia merece destaque. Após as intensas vaias, ao discursar, a prefeita reconheceu a legitimidade do descontentamento dos servidores: “Entendo perfeitamente que vivemos num Estado Democrático de Direito, vocês têm totalmente o meu respeito”.
Depois anunciou que trará “boas notícias” aos servidores no dia 3 de abril, quando completará um ano à frente da prefeitura, e acabou aplaudida por todos. Uma aula de civilidade e democracia.
No mérito da questão é preciso jogar um pouco de luz sobre a situação do município e reconhecer que é muito cedo para emitir qualquer juízo sobre o desempenho da atual gestão da Capital, diante da contextualização do que foi efetivamente herdado por ela. Não se trata de garantir que esse governo de Palmas será um sucesso absoluto daqui a seis meses ou um ano. Pode ser que a administração se revele um total desastre, e reconheceremos isso prontamente. No entanto, afirmar isso hoje é desconhecimento do quadro financeiro herdado ou pura má-fé por interesses pessoais frustrados.
Como bem afirmou o vereador Milton Neris (PP) esta semana, Cinthia pegou uma gestão com R$ 100 milhões de dívidas referentes a 2017, além das pedaladas fiscais que comprometeram o exercício financeiro de 2018.
Fora isso, contas feitas sem o devido processo, o que gera as críticas compreensíveis de quem acreditou na palavra que lhe foi empenhada antes da posse da atual gestão; e rondam nos bastidores até histórias de processos físicos que simplesmente desapareceram da prefeitura, um descalabro total que em nada combina com o auto-título de “suprassumo da gestão”. O que chega de notícia é de total desleixo, incompetência e graves suspeições de improbidade pairam no ar, e muito ainda vai se falar a respeito. Tenham paciência e lá na frente lembrem-se do que está sendo dito aqui.
Para complicar a situação, há anos que não chovia tanto em Palmas, tornando algumas vias praticamente intransitáveis. Como fazer para as operações tapa-buracos se o aguaceiro não dá trégua?
Com as barbáries administrativas e financeiras em que se encontrou a prefeitura e as condições climáticas desfavoráveis dos últimos meses, é claro que o resultado não poderia ser outro que não dificuldades monumentais, e críticas, muitas.
Por isso, concordo também com o vereador Milton Neris quando ele disse que o erro de Cinthia é ficar calada. Ela disse em seu discurso dessa quinta que “ninguém sabe o que o calado quer”, valorizando a importância do silêncio. Até certo ponto, tem razão, mas há um limite também para isso, como a coluna escreveu há alguns meses. Porque o risco é de o silêncio significar consentimento aos olhos da sociedade de que tudo está às mil maravilhas. A partir deste ponto dizer que havia problema não vai convencer mais ninguém, e o carimbo de “incompetência” será eternizado.
Nas entrelinhas, Cinthia deixou a impressão de que seu silêncio está perto do fim. É o que efetivamente falta para ela ganhar voo próprio. Enquanto não fizer isso, estará umbilicalmente ligada ao seu carrasco.
CT, Palmas, 15 de março de 2019.