Caro Eduardo,
Passadas as eleições, a vida volta ao normal e é preciso que continuemos a remar para que o barco não afunde. E nessa embarcação você tem alta patente, senador. É referência para os simples marinheiros que quase todos os outros somos. Por isso, fiquei muito satisfeito em vê-lo em agenda com o governador Wanderlei Barbosa pelos ministérios esses dias. As disputas e as divergências de projetos são águas passadas, os palanques foram desmontados e temos que remar rumo ao horizonte do desenvolvimento, para onde todos queremos que o Tocantins navegue.
Nunca tive dúvida de que isso ocorreria, mesmo com as rusgas surgidas num processo eleitoral em que os players querem vencer, o que é mais do que natural. Afinal, há 20 anos que conheço sua grandeza e sua inteira dedicação ao desenvolvimento do Estado e dos nossos municípios, independente da cor partidária do chefe de Executivo do momento. Como todo ser humano, você, Eduardo, tem defeitos, mas um deles, com certeza, não é a pequenez.
Não foram poucas as vezes que o vi ajudando prefeitos que meses antes estavam em palanques opostos ao seus. Também, sua escola política foi a melhor possível, a do nosso saudoso senador João Ribeiro, que tinha a mesma postura. Lembro certa vez que João fora traído por um prefeito na eleição e, terminadas as disputas, o fulano recorreu ao gabinete dele em busca de socorro. O senador passou umas educadas mas firmes reprimendas no insidioso, levantou-se e se dirigiu com ele para os ministérios em busca de recursos para o município. Dizia para mim que os cidadãos não poderiam pagar pelos erros do prefeito.
É justamente essa postura de grandeza que sempre vi em você e que me vem à mente agora quando chegam a mim avaliações precipitadas de seu desempenho nessas eleições. Ao contrário do que me dizem, vejo que o senador foi um grande vencedor neste processo porque não perdeu o que há de mais importante para um líder [e aí outra lição trazida de João Ribeiro]: amizades e princípios.
A vantagem de ficar mais velho é que vivemos muito, cultivamos variadas relações, que se estreitam. No meu caso, em duas décadas de moagem em terras tocantinas, as fontes já se tornaram íntimas e entre nós não há segredos. Por isso, acompanhei as entranhas das eleições de outubro desde seus primeiros movimentos, muito antes até da definição de pré-candidaturas.
Sei que os prefeitos e vereadores do Estado o queriam como candidato a governador. Não tenho a menor dúvida de que, se o senador tivesse entrado nesta disputa, Wanderlei não teria tido a vida fácil que experimentou, e o resultado das eleições seria imprevisível. Contudo, ficou claro que prevaleceu o que sei que, para você, não tem nada de mais importante: a amizade.
Como sempre afirmei, Ronaldo Dimas seria um governador para ficar na história do Estado, mas não conseguiu construir as condições políticas de que precisava para se tornar competitivo. Isso, para mim, estava claro desde o início das articulações pelo que ouvia diariamente de quem dá musculatura a um candidato: os líderes tocantinenses.
Outro político teria dado um jogo de corpo em Dimas e assumido a candidatura – só lembrar que tivemos nessas campanhas exemplo desse calculismo maquiavélico, quando o sujeito se fingiu de aliado para tomar a candidatura alheia. Você, não. Permaneceu firme ao lado de Dimas, frustrou muita gente quando me disse em entrevista que o ex-prefeito de Araguaína era seu candidato a governador e que você ficaria em Brasília. Interessante que até a convenção havia aliado seu me passando mensagem esperançoso de que Eduardo mudaria de posição e encabeçaria a chapa antes do registro no TRE-TO.
Um outro aspecto que, para mim, o torna um vencedor nessas eleições, quando se trata de preservação de princípios, foi o respeito que teve à decisão dos líderes. Não houve faca no pescoço para obrigar quem quer que fosse a acompanhá-lo no projeto que avaliava que era o melhor para o Estado. Isso ouvi dos prefeitos e vereadores mais articulados.
Significa, senador, que seu candidato perdeu a eleição, mas você manteve suas amizades e a admiração de todos os líderes nos municípios. Ou seja, ao final das contas, a despeito dos resultados dos confrontos, sua liderança diante deles saiu intacta, e, para um político, não há vitória maior do que esta.
Quanto ao futuro, a derrota do presidente Jair Bolsonaro, de quem é líder no Congresso, não será obstáculo para o grande trabalho que o senador faz pelo Tocantins. Lembro-me do início do primeiro governo Lula, entrando nos anos 2000, das recepções em sua residência com a presença de ministros petistas da mais alta patente naquele momento, como José Dirceu e outros, mesmo sendo você deputado federal do PSDB, então inimigo figadal do PT.
Assim, não tenho dúvida de que não será diferente agora, porque sei que o senador permaneceu cultivando essas relações ao longo do tempo, como sempre faz, a despeito do lado em que atua e até das loucuras inimagináveis de seus aliados, como vimos nesse governo surreal que – desculpe minha exaltação de alívio –, para o bem da democracia, agora termina.
Na boa política, sempre haverá um espaço para um quadro de sua grandeza de espírito. Por isso, carrego a mais absoluta certeza de que o senador continuará sendo peça fundamental para o desenvolvimento do nosso Tocantins, independente da posição em que estiver jogando em campo.
Termino falando do meu mais nobre vizinho, nosso José Roberto. Volta e meia nos batemos numa caminhada por aqui ou nos rodízios de almoço na casa dele, na minha ou do nosso “prefeito” André Simonassi. Rimos muito e trocamos muitas ideias. O Zé até me honrou com uma boina especial, do gigante Zé Gomes.
Que família! A grandeza de vocês é coisa de DNA.
Saudações democráticas,
Cleber