A decisão do Presidente norte-americano Donald Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre as exportações de produtos brasileiros reacende o debate sobre o protecionismo, a soberania nacional e o futuro das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. Apesar do impacto imediato nas exportações, as projeções apontam que os efeitos sobre o PIB e o emprego no Brasil serão de certa forma limitados em 2025. Ainda assim, a medida exige uma resposta estratégica do país e amplia as discussões sobre a dependência externa e a reconfiguração da geopolítica global.
As exportações Brasileiras e o Choque Tarifário. Os Estados Unidos representam cerca de 12% do destino das nossas exportações. Itens como café, carne bovina, celulose, suco de laranja, aeronaves e aço estão entre os principais produtos afetados. Com a nova tarifa de 50%, a competitividade desses itens no mercado norte-americano praticamente desaparece, tornando-os inviáveis comercialmente. Como consequência, no curto prazo esse excedente tende a ser direcionado ao mercado interno.
Esse redirecionamento pode pressionar os preços domésticos para baixo, sobretudo em setores com baixa flexibilidade de exportação. Essa queda nos preços, especialmente de itens como carne, café e suco de laranja, pode contribuir para o controle da inflação, reforçando a expectativa de cortes na taxa básica de juros (Selic). Isso tende a estimular o consumo e, em certa medida, amenizar os impactos negativos no setor produtivo.
Em relação as medidas de Retaliação e propostas alternativas que o Brasil possa implementar frente à agressividade da medida americana. O país tem o direito de aplicar o princípio da reciprocidade previsto pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e já com a autorização do nosso congresso. No entanto, alguns analistas e setores da sociedade sugerem ações mais ousadas, como a quebra de patentes, especialmente de medicamentos e tecnologias importadas.
Embora controversa e sujeita a disputas jurídicas internacionais, essa iniciativa poderia gerar ganhos sociais relevantes, como a redução do custo de medicamentos e o fortalecimento da autonomia tecnológica nacional. A quebra de patentes, no entanto, exigiria uma articulação institucional robusta, apoio político e grande sensibilidade diplomática. A grande questão que se impõe é: vale a pena comprar essa briga neste momento?
O esgotamento da hegemonia comercial americana. Esse episódio não ocorre de forma isolada. Ele se insere num processo mais amplo de desgaste da liderança global dos Estados Unidos, intensificado por políticas protecionistas, isolacionistas e erráticas promovidas pelo governo Trump. A ascensão de potências como China e Índia, somada à formação de novos blocos econômicos e acordos multilaterais, como BRICS e Mercosul-União Europeia, sinaliza uma reorganização das cadeias globais de valor. Em outras palavras, o mundo está aprendendo a funcionar sem depender exclusivamente dos Estados Unidos.
A postura agressiva de Washington, que já gerou atritos com parceiros históricos como Canadá, Alemanha e México, tem se mostrado contraproducente. Em vez de proteger sua economia, os EUA incentivam o surgimento de novos mercados, centros de inovação e alternativas comerciais fora do eixo tradicional Washington-Bruxelas.
E quais os impactos econômicos no Brasil? De acordo com projeções de especialistas, o tarifaço deve causar uma retração entre 0,3% e 1,0% no PIB brasileiro em 2025. Já a perda estimada de empregos gira em torno de 100 mil postos formais de trabalho, cerca de 0,1% da força de trabalho, o que, embora negativo, não representa um quadro alarmante.
Esses números evidenciam uma economia brasileira mais robusta e diversificada que no passado. A ampliação de mercados na Ásia, Oriente Médio e América Latina, aliada à valorização do consumo interno, ajuda a amortecer choques externos e oferece ao Brasil maior margem de manobra em momentos de tensão internacional.
Enfim, o tarifaço de Trump pode ser visto como um golpe comercial, mas também como uma oportunidade estratégica. Ao forçar o Brasil a buscar novos parceiros, ampliar sua capacidade industrial e investir em inovação e soberania tecnológica, essa crise pode catalisar um novo ciclo de desenvolvimento com menor dependência dos humores da Casa Branca. No xadrez geopolítico, perde quem se isola e joga contra o tabuleiro global. O Brasil, se agir com inteligência, diplomacia e firmeza, pode sair fortalecido deste episódio, mais preparado para um mundo multipolar e menos suscetível à chantagem econômica de potências em declínio.
FRANCISCO VIANA CRUZ
É economista professor do IFTO e doutor em economia.