Volta e meia chega mensagem de sonhadores que esperam repetir 2012 em 2024 nas eleições de Palmas. Ou seja, acreditam piamente que surgirá um outsider à la Carlos Amastha (PSB), que, partindo de quase zero, vai pegar um vácuo e vencer aqueles neste momento tidos como principais players. Uma leitura totalmente anacrônica do cenário eleitoral. A conjuntura de 2012 foi um ponto fora da curva, algo muito específico, de total desgaste dos caciques tradicionais, o que não existe no quadro atual.
Há 11 anos, havíamos acabado de sair da primeira cassação de um governador, Marcelo Miranda (MDB), e da eleição indigesta de um tampão, Carlos Gaguim, porque ocorreu por via indireta – pela Assembleia – e com total loteamento de pastas do Executivo aos deputados. Tudo muito impopular. Marcelo ainda havia conseguido se eleger senador, mas fora impedido de assumir em 2011 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), justamente por conta da cassação de dois anos antes.
O governo Siqueira Campos, logo após a posse, exonerou mais de 15 mil comissionados e, mesmo assim, não conseguiu interromper o crescente sufocamento das contas públicas. Em determinada altura, Siqueira chegou a se classificar como “gerentão de folha de pagamento”, com um Estado sem a mínima liquidez, sem qualquer condição de investimento. As demissões generalizadas e a crise fiscal arrebentaram com a popularidade do Palácio.
Acabou sobrando até para outro líder fundamental nas eleições de 2010, que já havia se afastado do novo governo, o senador João Ribeiro, que foi candidato à reeleição ao lado de Siqueira. Também respingava nele o desgaste de uma gestão que dizia em campanha que resolveria todos os problemas do Estado, que o Tocantins voltaria a ter capacidade de investir e retomar seu desenvolvimento.
Esse é o exato contexto das eleições de 2012, quando o novato e desconhecido do público em geral empresário Carlos Amastha, “o homem do shopping”, sempre com a sua camisa xadrez que remetia às tradicionais quadrilhas juninas, colocou seu nome na disputa, praticamente com traço de intenção de votos em qualquer pesquisa. Pelo PP, o candidato foi para o enfrentamento com apenas dois apoios de políticos tradicionais: os então deputados estaduais Sargento Aragão – o vice de Amastha que decidiu não assumir após a vitoriosa campanha – e Wanderlei Barbosa.
Contra Amastha havia, de um lado, a candidata Luana Ribeiro, com Alan Barbiero de vice, apoiados por João Ribeiro e Marcelo Miranda. De outro, o nome governista para a disputa, com Cirlene Pugliesi de companheira de chapa, era Marcelo Lelis, que vinha de um histórico segundo lugar em 2008, quando deixou a candidata do Palácio, Nilmar Ruiz, na terceira colocação.
Além do desgaste de todos esses políticos tradicionais, a candidatura palaciana cometeu o erro crasso de tentar juntar água e óleo, ou seja, a ex-UT – Lelis, Siqueira, Eduardo Siqueira, Eduardo Gomes, Kátia Abreu e companhia – com seu adversário histórico, o MDB, na época sob comando do saudoso deputado federal Júnior Coimbra. Óbvio: o palanque despencou no primeiro comício e não teve mais quem o reerguesse ao longo da campanha.
Tenho comigo até hoje que se Marcelo Lelis fosse candidato de oposição a Paço e Palácio, não haveria o fenômeno Carlos Amastha. Lelis, como disse acima, vinha de uma enorme vitória pessoal de 2008, ao deixar a candidata governista para trás. Com um discurso contra as gestões Raul Filho, prefeito do PT na época e muito desgastado, e Siqueira, é muito difícil que “o homem do shopping” surfasse no vácuo, que, certamente, não existiria.
E hoje? A profunda crise fiscal ficou para trás e o Estado conta com alguma capacidade de investimento. Em consequência, o inquilino do Palácio, Wanderlei Barbosa, goza de elevada popularidade. Amastha já não é nenhuma novidade após seis eleições (contando a de Thiago “Amastha” Andrino em 2020, o ex-prefeito ganhou duas e perdeu quatro), bem como seus possíveis concorrentes – Janad Valcari, Eduardo Siqueira, Júnior Geo e Vanda Monteiro. Jairo Mariano é um nome novo, mas sem o reconhecimento de serviços prestados a Palmas como Amastha há 11 anos, tido como o grande empreendedor da cidade.
Dessa forma, alguém pode até se colocar como outsider das eleições de 2024, por ser um estranho no processo. Mas, com a conjuntura totalmente diferente, vai ser totalmente ignorado pelo eleitorado, como todos os candidatos nanicos de sempre.
CT, Palmas, 23 de outubro de 2023.