É visível que a crise provocada pelo novo coronavírus se agravou consideravelmente de uma semana para cá. A complicação já vinha num crescendo e desde semana passada que todos os números — casos, hospitalizações, ocupação de UTIs e mortes — acenderam todas as luzes vermelhas. A própria movimentação do Ministério Público Estadual nos últimos dias deixa isso bem claro.
Inclusive, chegamos ao ponto em que temíamos: pessoas estão morrendo por falta de leito de UTI, como ocorreu em Tocantinópolis. Todas as unidades ocupadas. Nesta semana um promotor chegou a dizer à imprensa que se precisássemos de UTI teríamos que disputar cinco leitos em todo o território estadual. Essa é a radiografia mais exata da pandemia no Tocantins neste momento. A situação é absurdamente crítica, ao mesmo tempo que incrivelmente previsível faz quatro meses.
Mas se optou por paliativos, por empurrar com a barriga até onde dava. Essa foi política adotada pelas autoridades do Tocantins. Os números, contudo, se intumesceram de tal maneira que não dá mais para empurrar com a barriga, muito menos para esconder debaixo do tapete. Número de casos de Covid-19 é fácil de escamotear, mas falta de UTIs, médicos e excessos de sepultamentos, impossível.
Concordo com a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro (PSDB), de que é preciso urgente um lockdown na região metropolitana. Não só nela, mas também na região de Gurupi, novamente no norte e no Bico do Papagaio. Só uma cidade — e Cinthia está correta neste ponto — não vai adiantar. Para Palmas se deslocam diariamente pessoas de todo o Estado, porque a vida administrativa tocantinense se centraliza, por óbvio, na Capital.
Se o que gera a disseminação do novo coronavírus é a movimentação das pessoas, sem um lockdown mais amplo, pouco resolverá qualquer medida que a prefeita adotar aqui. Agora isso não pode ocorrer como em maio, quando o lockdown morreu de apatia. Prefeitos fizeram corpo mole porque temiam se desentender com os munícipes em ano eleitoral e deixaram a medida espirar por falta de ação deles mesmos. O lockdown é determinada pelo governador, mas a responsabilidade pelo sucesso da medida é de todos.
A população também precisa colaborar. É um absurdo vermos as pessoas sem o menor pudor, mantendo sua rotina nas ruas, nas praias e nas pescarias. É falta de consciência cidadã, de espírito cristão (porque releva que não ama o seu próximo nem a si mesmo) e desnuda a total irresponsabilidade e a incivilidade do País.
Por outro lado, os prefeitos não podem ficar esperando só o governo do Tocantins agir, mantendo seus comércios funcionando como se quase nada estivesse ocorrendo — claro, há álcool em gel, máscara e marquinhas no chão para o distanciamento. É preciso muito mais. Mais regras, mais rigor, mais multas (e pesadas), muito mais fiscalização (ampliar as equipes com urgência porque o pessoal está esgotado) e até suspensão de atividades comerciais dos refratários.
O que não é possível é continuar nesse estica-e-puxa enquanto a doença avança e faz mais e mais vítimas. Essa falta de uma ação dura é um total desrespeito aos tocantinenses.
CT, Palmas, 5 de agosto de 2020.