As redes sociais são um fenômeno novo, do ponto de vista histórico, e que dão a nós, pouco afeitos a elas, uma falsa sensação de distanciamento, o que pode nos levar a exageros. Por trás dessa tese, num outro extremo, estão os absurdos racistas, por exemplo, porque as redes ainda dão outra falsa sensação: a de que se trata de terra sem lei, um verdadeiro vale-tudo.
Levaremos muitos anos ainda para nos adaptar a elas. Mas, com as leis se tornando mais rígidas e com as decepções com os outros e com a gente mesmo, vamos aprender. Falo de experiência própria.
[bs-quote quote=”Mas mal mesmo as redes sociais fazem é à vida pública, àqueles que vivem de sua imagem e dela dependem para conquistar pessoas, popularidade e votos. Claro, quando não se sabe conviver com o mundo virtual e quando a personalidade é do tipo que não leva desaforo para casa” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/07/ct-oficial-60.jpg”][/bs-quote]
Há coisa de uma década, ainda asfixiado por crenças antigas, falei muita bobagem, magoei pessoas e fui magoado. Nos últimos anos, a vida me mostrou na prática o princípio shakespeariano de que há mais mistério entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia imagina. Eu mesmo não imaginava. Fui tremendamente impactado e deixei as crenças superadas que tanto mal causaram e a causam no mundo, ainda que possam ter todas as boas intenções. Ainda tento me adaptar, superar minhas limitações com muita leitura e a formação interiorana e rígida que me cercou a vida toda. Não é fácil, mas necessário avançar. Um passo de cada vez.
Mas mal mesmo as redes sociais fazem é à vida pública, àqueles que vivem de sua imagem e dela dependem para conquistar pessoas, popularidade e votos. Claro, quando não se sabe conviver com o mundo virtual e quando a personalidade é do tipo que não leva desaforo para casa.
Isso para vale para o Brasil e fora dele. Lá nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump é um dos que despacham pelo Twitter, onde fala o que pensa. Na política, a gente sempre diz que apenas três seres agem dessa forma: as crianças, os bêbados e os doidos. Nas loucuras virtuais, Trump ainda se salva porque a economia americana está em franco crescimento. Povo endinheirado tende a relevar as bobagens de seus líderes.
No Brasil, temos os loucos que falam o que pensam: os Bolsonaro. Até as eleições, eles encontraram ressonância nos adeptos do politicamente incorreto e os insatisfeitos com o petismo deram de ombros à verborragia irresponsável da família. No entanto, passadas as disputas eleitorais, os fanáticos bolsonaristas, que pensam como seus ídolos, aplaudem, mas as demais parcelas da sociedade estão deixando de apoiar o governo diante dos discursos que remetem o Brasil à idade média, com a defesas de torturadores e frases desconexas com o século 21.
No Tocantins, as redes sociais abateram aquele que era visto como imbatível, o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB). Visto em novembro de 2017 como “governador eleito”, em março de 2018 já estava derrotado pelas próprias mãos, quando digitava impropérios a tudo e a todos que ele queria que se chamasse “velha política”.
Porém, ao invés de servir de exemplo de como não se deve usar as redes sociais, Amastha fez escola. Pelo menos é o que mostram as postagens de sua ex-aliada e sucessora Cinthia Ribeiro (PSDB). Em menos de uma semana, em uns poucos posts, a prefeita conseguiu jogar quase toda a Câmara contra ela, até os mais fiéis aliados.
Se continuar com nesse ritmo, o fim de Cinthia será o mesmo de seu antecessor, e, ao invés de reeleição, como seu ex-aliado, estará pensando é numa vaga de vereador para tentar recomeçar a vida pública, jurando não cometer mais as bobagens virtuais do passado.
CT, Palmas, 14 de agosto de 2019.